sábado, 3 de março de 2018

NIQUELÂNDIA-GO: A CRISE QUE NÃO ACABA

Praça central de Niquelândia.
Niquelândia já foi uma das mais promissoras cidades do Estado de Goiás. Entre 2005 e 2006, por ocasião da elaboração do Plano Diretor do município, fez-se um levantamento das potencialidades econômicas do município que, já à época, apontou-se que ia muito além do Níquel. Piscicultura, turismo ecológico e religioso pareciam as alternativas mais viáveis. Apesar disso, a partir de 2008, no bojo da crise do minério, o Município mergulhou numa decadência profunda da qual não consegue sair. Que a cidade dependia quase exclusivamente do minério é fato. Mas, o problema vai muito além disso.

O primeiro problema de Niquelândia, e o principal, é político-administrativo. A prefeitura, que deveria gerir os poucos recursos públicos garantindo à população a manutenção de serviços básicos, como saúde e educação, tem sido, principalmente a partir das primeiras gestões do prefeito Luiz Teixeira, cabide de emprego e fonte de riqueza para os amigos mais próximos do prefeito, além das duas rádios da cidade.

Cabide de emprego, a prefeitura tornou-se uma empregadora maior que sua capacidade de empregar, na maioria dos casos, sanguessugas que ocupam cargos apenas para receber salários. O pior dessa tragédia é que não foi política exclusiva de um prefeito, mas de todos que, sobretudo a partir de 2.000, ocuparam o palácio do Níquel.

Aprofundou a crise a gestão de um grupo de moleques que assumiram a prefeitura para prostituir os cofres públicos e as mulheres da cidade, também pagas com dinheiro do povo, que naquele período começaram a receber pagamentos com atraso ou não receber.

A situação nesse início de 2018 parece ter chegado ao seu limite. Os funcionários públicos, à beira da fome, vagam pelas ruas em passeatas de poucos resultados. A prefeitura, ao mesmo tempo em que repete velhas justificativas, continua privilegiando apaniguados.

O problema de Niquelândia é de gestão. A solução, portanto, é também de gestão. Não virá, no entanto, sem dor. É preciso reduzir o tamanho da máquina pública, o que requer a demissão de todos os temporários, sem qualquer exceção. 

Conheço o atual prefeito, Valdeto Ferreira, e até acredito que ele possa ter boas intenções. Mas, se quiser ajudar Niquelândia precisará ter força de caráter para priorizar o povo, o que requer o abandono das velhas práticas de apadrinhamento, inclusive das relações promíscuas com os meios de comunicação local. É preciso ir além da canalhice que tem caracterizado a política no município.

É importante que esse povo que sofre agora tenha consciência de que esse sofrimento é o resultado exclusivo das escolhas que têm feito. Há quanto tempo velhas raposas são eleitas e reeleitas em Niquelândia? O povo precisa ter vergonha na cara, o que se sabe até agora, isso o povo de Niquelândia não tem. 

Sou meio niquelandense, então desejo que meu povo encontre o caminho. E quando encontrarem, percorram.

MINHA ESPECIALIDADE É MATAR

"Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você", esse é um dos aforismos nietzschiano que melhor traduz o momento político-econômico que atravessamos no Brasil.

Para a imprensa brasileira a "grande notícia" sobre a passagem de um pré-candidato à presidência da República do Brasil em viagem pelo Japão, foi a histeria da multidão que o recebeu no aeroporto. Mas tarde vi um vídeo de uma reunião, ainda no Japão, em que esse pré-candidato foi questionado sobre como simplificar a burocracia para o pequeno empresário brasileiro, questão de política econômica. A resposta, depois de dizer que não entendia de economia foi, literalmente "[...] assim como não entendo de medicina; minha especialidade é matar" . [conforme link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Di8XFcBwd-s, observe o que diz a partir de 40 minutos de gravação]. Esse mesmo discurso já tinha sido feito pelo pré-candidato à presidência quando da sua passagem por Porto Alegre, como noticiou, à época, o jornal Folha de São Paulo [edição de 29/06/2017]. Não vemos mais o abismo porque já estamos no abismo. Não há mais o que ver, a não ser a saída. 

O homem cuja única especialidade declarada é matar apresenta-se como pré-candidato e, além de segundo colocado nas intenções de voto no país, é o primeiro colocado no Estado mais populoso do Brasil, São Paulo.

Além do abismo que produziu, desde o processo colonizador, os privilégios de alguns sustentados pela miséria de muitos, vivemos agora a crise daquilo que nos distinguia dos demais animais, a humanidade.

Sim, embora a face mais visível da crise que atravessamos no Brasil seja político-econômica, a essência da crise está nos valores humanos, postos em cheque não só nos discursos de ódio, mas também nas políticas de Estado, pautadas num processo brutal de desumanização dos mais fracos. Há uma espantosa recepção aos discursos de ódio que, por isso, proliferam e se transmutam em práticas, também de ódio como está sendo o processo de intervenção no Rio de Janeiro. O ódio, no Brasil, mas não só no Brasil, como prova o resultado da última eleição norte americana, tornou-se recurso preponderante na engrenagem política de captação de votos. Agora o ódio serve até como recurso de marketing para a imagem de um golpista decrépito.

O ódio, no momento, tem sido o melhor recurso discursivo na corrida presidencial.

O que se pode ver para além do abismo são as perspectivas de um projeto educativo - e tem sido essa a minha luta - em que, ao mesmo tempo em que se ensina a pensar, se ensine também a amorosidade pelo outro e pelo mundo.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O PROFESSOR NÃO SABER O QUE ENSINA É TRISTE. MAS NÃO TER CORAGEM DE ESTUDAR É TRÁGICO.

Tenho muitas angústias com o sistema público de ensino. Mas, não apenas com o público, a banalização da mercadoria-educação também é uma tragédia. Entre os muitos fatores que produzem essa angústia, a destruição do futuro da juventude por professores incompetentes e preguiçosos é a desgraça que dói mais.

No Estado do Pará, professores com licenciatura em Pedagogia, ou seja, formados para as generalidades da educação infantil, estão sendo contratados para ministrarem aulas de filosofia e Sociologia no Ensino Médio. Pedagogos da UNOPAR, UNIASSELVI e outras  insignificâncias acadêmicas a desgraçar a juventude paraense.

Estes professores, pela própria natureza do curso de Pedagogia, não estão preparados para a tarefa que lhe atribuem. E isso, para a maioria deles, não tem qualquer relevância, vez que importante é estufar o "pé de meia", especialmente quando se tratam das boas gratificações do Sistema Modular de Ensino. Para o Estado é a massa docente ideal; porque de um lado, a educação das classes populares é um luxo subversivo, e do outro, tratam-se de professores desligados e descomprometidos com a realidade em que atuam. 

Estudar, para grande parte destes professores, não é um projeto porque biqueiros, se sabem docentes do momento, com um contrato precário e temporário, noutro momento, vendendo banana na feira, ou em qualquer outro bico, tão despretensioso quanto ensinar o que não sabem. 

O que me revolta não é a ignorância destes colegas. Isso, embora grave, tem remédio. A professora, de filosofia por exemplo, poderia utilizar o livro didático para um estudo mínimo do conteúdo de aula. O estudo poderia ser um caminho minimizador de danos. Mas, infelizmente, a ignorância quase sempre é acumulada com a indolência.

Pior que não saber é fazer da ignorância instrumento de trabalho. Sim, o professor que não sabe o que ensina, ensina o que não sabe.  E isso, geralmente, é o que acontece quando se põe uma pedagoga ou um pedagogo para ensinar filosofia.

Eu precisava dizer isso.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ANETTE, A CINDERELA CAMPONESA - A FOME MEDIEVAL

A popularização dos contos, em todas as sociedades e tempos, decorre dos valores ou da capacidade da narrativa de repercutir o contexto do seu enredo. Dito de outra forma, as narrativas precisam ter significância para o público leitor. É nesse sentido que o conto A Pequena Anette é constitui uma das mais ricas narrativas populares sobre a sociedade medieval. Seu pano de fundo, a fome. E, embora não fosse a fome o único problema de uma sociedade que era, essencialmente, medrosa, doente e atolada na superstição religiosa, a carência alimentar já diz muito.


A jovem Anette, órfã, vivia juntamente com a madrasta e suas filhas. Anette alimentava-se com um pedaço de pão por dia dado por sua madrasta. A menina ficou magrinha pela má alimentação. Já as filhas da madrasta se alimentavam por dia com carne de carneiro e muitos outros deliciosos alimentos, enquanto a garota órfã trabalhava no campo e ainda lavava as vasilhas sujas das refeições que não fazia.

Num belo dia, a situação da menina órfã mudou, a pequena Anette recebeu da Virgem Maria uma varinha mágica que produzia um enorme banquete quando tocada em uma ovelha negra. Rapidamente, Anette foi ficando gorducha, de acordo com o seu desejo, pois a pequena jovem estava aderindo aos padrões de beleza da Idade Média (nesse período, o padrão de beleza feminino era a mulher com peso avantajado).

Com Anette engordando através da mágica, logo sua madrasta descobriu o segredo e mandou matar a ovelha negra. O fígado da ovelha foi oferecido à Anette, que o enterrou sem o conhecimento da madrasta.

A órfã, após ter enterrado o fígado, se surpreendeu, pois no local nasceu uma árvore enorme que ninguém conseguia pegar os frutos. Somente Anette se alimentava dos frutos daquela grande árvore, que abaixava os galhos para a menina alcançar as frutas.

Com o passar do tempo, um príncipe guloso fez a promessa de se casar com a pessoa que conseguisse colher os frutos. Como a árvore obedecia somente à Anette, a menina colheu os frutos para o príncipe, que se casou com a jovem e eles viveram felizes para sempre.

A camponesa órfã ascendeu à nobreza, ganhou regalias e ficou isenta do pagamento dos impostos. No entanto, essa ascensão social camponesa na Idade Média era praticamente inviável, somente possível nos contos.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

FILME OPERAÇÃO LAVA JATO - A LEI É PARA O PT

Estreou, com grande cobertura da imprensa brasileira, o filme operação lava jato, a lei é para todos. Na plateia, com direito a tapete vermelho, estava Sérgio Moro, o grande herói aecista; dizem, aliás, que o tapete havia sido pensado para que Moro e Aécio Neves entrassem de mãos dadas.

A Lei é para todos!? Piada! Pra começo de conversa a PF é a polícia branca para a elite criminosa desse país.

À exemplo de Lula, filho do Brasil, nesse caso sem cobertura, a produção cinematográfica dos federais brasileiros é apenas expressão de um cinema medíocre que se esforça por retratar instituições e personagens de uma nação que faliu moral, ética e socialmente.

O grande questionamento que faço é sobre o nível mental dos produtores e diretores brasileiros. São tão incapazes assim? Pobre cinema.

sábado, 5 de agosto de 2017

O DESPREZO PELOS LIVROS: BREVE REFLEXÃO SOBRE O USO DO LIVRO DIDÁTICO.

Centenas de livros didáticos amontoados num canto da escola

Enquanto centenas de livros, alguns ainda no plástico perdem seu ciclo de uso (2015-2017), alunos ficam sem livros.

O fim de um ciclo (2015-2017), a quem servirão estes livros?
No final da adolescência li uma crônica sobre um homem que, tendo conhecimento de uma obra literária – não recordo mais o detalhe sobre como a conheceu – passou a desejá-la em sua estante a qualquer custo. Impressionou-me o desfecho da narrativa vez que, depois de provocar um incêndio apenas para roubar o livro, o personagem apenas contempla a obra em sua estante sem qualquer indicação de que a leria de fato. Acredito tratar da obra a paixão pelos livros (SILVEIRA e RIBAS, 2004), mas também não tenho certeza. Certeza é que houve um tempo em que o livro, às vezes em si mesmo, além de paixão inspirava grandeza ao limite da soberba.

Mas, aquela leitura fez perceber, com mais clareza, como livros constituem expressão de um poder simbólico e, por isso, impõem certo respeito àqueles que os detêm. Desde os gregos, e especialmente com Aristóteles, os homens das letras gozavam de uma distinção quando comparados aos mortais comuns.

Mas o século XX, sobretudo no que antecedeu, durou e sucedeu às duas guerras mundiais, impôs a força, e a violência dela decorrente, como fenômeno preferencial na orientação das ações humanas. Essa situação, como bem o demonstra Hannah Arendt, em pelo menos três trabalhos (1989; 1991 e 1999), não só sobrepôs a violência ao saber, como condicionou o saber às contingências da brutalização social. Considerando a realidade brasileira e o cenário internacional a impressão é que nesse início de século XXI a coisa apenas pirou. Avançamos da força para o caos absoluto – de qualquer modo, um tempo de desprezo a qualquer forma de sabedoria.

Nesse nosso tempo não se pode dizer que exista forma mais segura de garantir a acefalia social do que retirar, na escola e através da escola, as condições de acesso ao saber àqueles que dependem dessa instituição para, por exemplo, poder conhecer um livro.

A escola tem sido o elemento fundamental do processo de desumanização. A escola, à medida que deixa de oportunizar libertação da violência, brutaliza e reproduz a barbárie cujos caos político e social são reflexos.

Como se poderia definir, senão como prática violenta, a forma como lida com livros didáticos – direitos dos alunos e alunas e amontoados às centenas no Escola Gaspar Viana – a rede pública estadual de Marabá? Essa violência equivale ao caso de remédios vencidos e descartados em hospitais públicos – e se vencidos precisam ser descartados –enquanto pessoas morrem por falta destes mesmos remédios.

De um lado, centenas de livros, que deveriam ter sido distribuídos em 2015, jazem feridos pela inoperância pedagógica que impede, do outro lado, outras centenas de jovens e adolescentes de terem acesso ao livro didático – adquirido com dinheiro público exatamente para atender a necessidade destes jovens e adolescentes.

Estive na escola para tentar conseguir pelo menos 10 livros de história do 1º ano do Ensino Médio para alunos da Vila Oziel, onde funcionam turmas de alunos desassistidos de tudo e de todos. Me disseram que deveria encaminhar um requerimento à 4ª Diretoria Regional de Ensino, 4ª URE. A indignação calou minha voz. Impressiona como a incompetência e a irresponsabilidade é competente para se escudar na burocracia e, por essa estratégia, parecer responsável!

O desprezo pelo livro supõe fracasso do processo de formação para a leitura da palavra e, em consequência, incerteza sobre a formação para a consciência e participação na transformação desse mundo, de barbárie, em alguma coisa melhor.   

Bibliografia

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
____. Homens em Tempos Sombrios. Trad. Ana Luisa Faria. Lisboa: Ed. Relógio d'Água, 1991.
____. Sobre a Violência. Trad. André Duarte. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.

SILVEIRA, Julio e RIBAS, Martha (Orgs.). A paixão pelos livros. SILVEIRA, Julio (trad.). Rio de Janeiro: Casa da Palavra: 2004.

domingo, 16 de julho de 2017

SÉRGIO MORO, O JUIZECO

Segundo a lógica do ex presidente do senado, Renan Calheiros, Sérgio Moro é um juízeco. De fato, a expressão diminutiva constitui recurso de linguagem que alude o exercício pouco honroso de um magistério que deveria ser nobre e, considerando esse aspecto, o senador pode ter razão. Do meu ponto de vista, trata-se de um infeliz cuja vaidade soçobra os anseios aqueles que, embora sejam audiência, não podem editar o noticiável no Jornal Nacional.

O Sérgio Moro, além do ódio por políticos do Partido dos Trabalhadores deixou-se seguir como fantoche dos homens de nariz grande, grupo ao qual ele próprio, dizem, é ligado. 

Moro tornou factível os dois pesos e duas medidas da nossa justiça. Observe o leitor que, se compararmos a aparência abatida de Sérgio Cabral com o aspecto robusto e arrogante de Eduardo Cunha não se poderá concluir que a vida na cadeia seja a mesma para os dois.

Embora juiz de primeira instância, o poder que lhe tem conferido a imprensa e os bandidos que estão no poder contradizem a justa relação entre a expressão juizeco o exercício da magistratura de Moro. Ele não é um juizeco, é um agente político de um grupo canalha mesmo. É o juiz que absolve a mulher de Cunha, com provas, e condena Lula, por convicção. 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

OS ASSASSINOS ESTÃO SOLTOS E OS SOBREVIVENTES CORREM RISCO DE MORTE: A CHACINA DE PAU D'ARCO

O medo agora é pela vida dos que sobreviveram.
É muito grave a situação dos sobreviventes da Chacina da Fazenda Santa Lúcia. Já é de conhecimento público que a Polícia do Estado do Pará removeu os corpos, o que impediu a perícia no local da chacina e, por isso, comprometeu seriamente o processo de apuração dos eventos ocorridos na Fazenda do Sul do Pará. Mas, existem sobreviventes. E isso leva a uma outra questão, diante de uma polícia assassina, que não quer pagar por seus crimes, estão seguros os sobreviventes, que contradizem a versão do confronto? Não estão. 

O que o Estado do Pará está fazendo para proteger os sobreviventes, considerando que os policiais estão soltos, nada. E isso é muito grave.

A perícia realizada em Marabá indicou que, pelo menos três dos corpos periciados naquele instituto foram alvejados nas costas e na cabeça, o que contraria a versão de confronto. Algumas testemunhas relatam que os trabalhadores foram cercados pela polícia e, juntando essas informações aos disparos vai se desenhando um quadro em que, de um lado um grupo chega fortemente armado com intenção de matar, e do outro, pode ter havido uma tentativa de fuga ao cerco.

A sociedade precisa saber e se mobilizar para cobrar providências.

Enquanto tudo isso acontece o cadáver insepulto coloca o exército para sitiar Brasília sob o argumento de proteger vidraças. Não é desse governo que podemos esperar alguma coisa. Não é de nenhum governo. Precisamos, enquanto sociedade, pacífica e corajosamente, fazer o enfrentamento e negar esses assassinos.



A maior vingança é a resistência.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

NÃO FOI CONFRONTO, FOI MASSACRE - POLÍCIA DO PARÁ ASSASSINA 10 TRABALHADORES NO SUL DO ESTADO



Trabalhadores assassinados pela polícia.

A polícia do Estado do Pará matou 9 homens e 1 mulher trabalhadores rurais no Sul do Estado do Pará. Na região, as pessoas acreditam que o número de mortos é maior.


Segundo a Comissão Pastoral da Terra, os trabalhadores estavam em posses reivindicadas pela fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d’Arco, Sul do Estado do Pará.



Tornado o caso público, as autoridades têm se esforçado para criminalizar as vítimas. 

Para a consecução desse objetivo, a operação, que inicialmente era de reintegração, agora é apresentada na imprensa como operação para cumprir mandado de busca e prisão.  

No Pará os bandidos mais violentos temem o Tático, força militar especial do Estado. Diz-se, popularmente, que com o Tatico não tem conversa, tem caixão. Além da fama desse grupo, há a convicção, já generalizada, que a polícia paraense tem predisposição à violência com os trabalhadores do campo. Todos temem, principalmente a polícia militar.

A essa polícia, temida por bandidos perigosos, querem fazer acreditar, agentes de segurança e meios de comunicação, que trabalhadores comuns fizeram frente. Quem em sã consciência trocaria tiros com uma polícia temida e fortemente armada? 

As primeiras notícias sobre o episódio davam conta de que teria ocorrido um confronto entre policiais e trabalhadores numa operação de reintegração de posse. No entanto, ao mesmo tempo em que os agentes do Estado tentam dar inteligibilidade a construção dessa ficção, vão aparecendo elementos que a desmontam. Segundo o delegado João Bosco, diretor de Polícia do Interior do Estado, no local, com os trabalhadores, foram apreendidas onze armas de grosso calibre, incluindo um fuzil 762 e uma pistola Glock modelo G25. Além do mais, a polícia pretendia cumprir mandados de segurança contra alguns trabalhadores que teriam assassinado um segurança da fazenda.


O absurdo dessa declaração só não é maior que a pretensão do agente público que considera a sociedade acéfala. Quem conhece a questão agrária sabe que o movimento dos trabalhadores nunca foi um grupo armado. Não é incomum haver apreensão de espingardas, geralmente utilizada em atividades de caça pelos trabalhadores. Mas, nesse caso, o delegado procura construir a ideia de um bando armado, faltou apenas apresentar granadas e outros artefatos de guerrilha ou de assalta a bancos. 

Ficção.

Não está explicado a natureza da operação. Era reintegração de posse? Tratava-se de cumprir mandados de prisão? O discurso muda conforme a conveniência.

Não se pode supor, nesse circo de horrores, que seja séria essa história de que se pretendeu expulsar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, prender alguns. Em se considerando que isso seja verdade, seria forçoso admitir que quem deu a ordem pretendeu criar um clima de tensão. E se tudo isso for verdade, é preciso questionar com que objetivo. Vingar o segurança?

Quem estuda a questão agrária no Brasil sabe que segurança é, e sempre foi, sinônimo de pistolagem no campo. A diferença é que, até pouco tempo, embora tenham ocorrido local de contratação de pistoleiros com endereço fixo, como o café central em Goiânia na década de 1980, hoje a estrutura é oficiosa ao ponto de constituir CNPJ.

A polícia matou porque foi pra matar. A polícia matou porque há, no Brasil, um ambiente de coisificação do trabalhador. A polícia matou porque no Pará os governos tucanos têm matado. A polícia matou porque há uma conjuntura que mata e continuará matando.

Mataram. Mas, jamais vamos aceitar o discurso acéfalo do confronto.

domingo, 14 de maio de 2017

LUCIANO HUCK E AS ELEIÇÕES DE 2018


Huck e a convicção da elite branca de estar acima da Lei.
Depois que a sociedade norte americana elegeu Donald Trump, um candidato que era piada nos primeiros dias de pleito, foi possível perceber uma derrocada global daquilo que se poderia chamar de racionalidade democrática. No Brasil, oscilamos entre um racista nojento, que faz apologia ao estupro e o amigo do Aécio Neves, garoto propaganda do movimento golpista dos “camisas da CBF”. Num e noutro caso, o abismo alimentado por um ódio de classe que se manifesta num discurso fascistas que, a cada dia, ganha mais espaço numa sociedade cuja característica fundamental é a baixa escolaridade e, por consequência, limitada capacidade de análise e decisão autônomas.


Pois sim, Luciano Huck já é um candidato para o pleito de 2018. Presidente? Não é possível que, por aqui, a loucura se chegue a tanto. Mas não resta dúvida que numa sociedade de “bestializados” que encontram suas razões do dia-a-dia naquilo que lhes oferece os veículos da Fundação Roberto Marinho, ter Huck como apoio não deixa de ser importante.


É bom lembrar, num país que vive repetindo que Lula e Dilma são cidadãos comuns, que Luciano Huck e sua esposa Angélica, depois de um pouso forçado de seu jatinho, mesmo sem apresentarem qualquer necessidade de cuidados emergenciais, tiveram atendimento privilegiado na Santa Casa de Campo Grande, e por isso, deixaram pacientes do SUS sem leito.


Huck é a encarnação prática da psicologia das elites brasileiras, de que estando acima do povo comum, não precisam respeitar as leis que, na verdade são feitas para os comuns cumprirem. Nas eleições de 2014 houve uma expressão disso. Naquela ocasião, 05 de outubro de 2014, o cabo eleitoral de Aécio pôs o filho Joaquim, de 9 anos para votar, fato que já tinha se repetido nas eleições municipais de 2012.


Não há nada de novo...
À crítica a quem considere exagero. Mas a questão não é o voto, mas o pouco caso que se faz às leis. A questão é sempre o privilégio de classe, aliás, o privilégio de classe é o cabo de guerra que dividiu o Brasil atual, e que bom que dividiu, poderia ser pior, poderia ter ocorrido um consenso a respeito do projeto, em andamento, de esmagamento dos direitos históricos conseguidos pelos pobres.