PÁGINAS

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A práxis Educativa: a importância do Estágio para a iniciação docente.


A práxis remete à idéia de prática, mas vai além. A prática é puro fazer, a práxis é fazer que resulta de ação reflexiva e a ação reflexiva, por sua vez, constitui um olhar sobre si e sobre o mundo em posição avaliativa sobre o sentido e o valor do que se pretende executar. Por esta característica a ação docente deve constituir-se em práxis, mais do que pura prática. Tendo em conta estas qualidades inerentes à práxis deduz-se que ela requer qualidades. É dentro da perspectiva de qualificação do exercício do magistério daquele que se prepara para tal que devemos pensar o Estágio Supervisionado em História.
Quando se trata de trabalho educativo vale apena na “Carta sobre o Stalinismo” escrita por George LUKÁCS (1978) na qual ele identificou o autoritarismo na URSS sob domínio de Stalin como uma espécie de pirâmide, em cujo vértice estava o ditador, e que, “alargando-se sempre, na direção da base, compunha-se de “pequenos stalins”, os quais vistos de cima, eram objetos, e vistos de baixo, eram os produtores e mantenedores” da pirâmide. Assim também pode ser pensado o sistema educacional, não apenas no que diz respeito ao espírito autoritário com que alguns o coduzem, mas sobretudo, pelas mazelas que o caracteriza e em relação as quais o professor termina por colaborar para sua crescente deterioração. Como ensina FREIRE:

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa. Como aprender a discutir e a debater com uma educação que impõe?” (1997: 18).

Do que podemos concluir com as palavras freirianas que ou se educa para a liberdade ou para a domesticação, o que em síntese, implica manutenção do domínio de uns poucos. O professor estagiário deverá aproveitar o momento do estágio como espaço de reflexão sobre o modelo de professor que pretende para si mesmo. Sem perspectiva não há futuro. E o Brasil precisa, mais do que nunca, de professores que contribuam para a construção de um futuro diferente do presente porque o presente tem mostrado desigualdade, injustiça, violência gratuita e desencanto por idéias que outrora constituíam a literatura poética e era enaltecida pela sociedade como solidariedade, coragem, honra, dignidade. Acredito, enquanto professor, que somos nós professores que devemos não só recuperar o encanto destas idéias como pautar nossa prática em função das mesmas de modo a construir uma sociedade melhor.
Por outro lado, é preciso considerar que o trabalho do professor pode ser comparado ao trabalho do arquiteto. O arquiteto não constrói do nada. Existem materiais próprios para a edificação de uma obra. Assim também é o ofício do professor: requer materiais próprios para a prática de ensino. Esses materiais constituem os recursos e requerem metodologias para a sua utilização e uma didática que case adequadamente os recursos com as metodologias. No estágio você tem oportunidade de perceber como se dá esse casamento.
Toda profissão requer um período de estágio, a docência não é diferente. Sua finalidade é propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem a serem planejados, executados, acompanhados e avaliados segundo os currículos, programas, calendários escolares, a fim de se constituírem em instrumentos de integração, em termos de treinamento prático, aperfeiçoamento técnico-cultural, científico e relacionamento humano.
Dentro dos objetivos do Estágio, de acordo com o manual de Estágio da Faculdade Simonsen, organizado pela professora Dayse Medeiros e outros (2006), podemos destacar os seguintes pontos:
- Integrar o processo de ensino, pesquisa e aprendizagem;
- Aprimorar hábitos e atitudes profissionais;
- Proporcionar aos alunos a oportunidade de aplicar habilidades desenvolvidas durante o curso;
- Conhecer a realidade do mercado de trabalho;
- Possibilitar o confronto entre o conhecimento teórico e a prática adotada;
- Oferecer diferentes caminhos ao estudante para que se defronte com problemas concretos de processo de aprendizagem e da dinâmica própria do espaço escolar, buscando alternativas de solução em conjunto;
- Proporcionar segurança ao aluno no início de suas atividades profissionais, dando-lhe a oportunidade de executar tarefas relacionadas às suas áreas de interesse e do domínio adquirido;
- Estimular o desenvolvimento de espírito científico, através do aperfeiçoamento profissional;
- Agregar valores junto ao processo de avaliação institucional, a partir do resultado do desempenho do aluno no mercado de trabalho;
- Possibilitar ao estagiário contato direto com situações reais que lhe permitem planejar, orientar, controlar e avaliar o processo ensino-aprendizagem em instituições de educação básica e/ou de outros ambientes sócio-educativos.

Enfim, embora possa parecer que o estágio é uma prática enfadonha, ou que pode ser feito de qualquer forma, é importante considerar que, na perspectiva de uma prática libertária, o estágio é espaço de ação e reflexão, de aprendizagem e construção do conhecimento. Que é lugar aonde se aprende pela observação e se aprende pela reformulação do aprendido. Nesse sentido, é momento para que se aprenda que o magistério é um fazer democrático e cidadão. É um fazer que deve considerar o universo do educando e o próprio educando como possibilidade de aprendizagem. Isso significa, por exemplo, que a problemática acerca de um objeto de estudo pode ser construída a partir das questões colocadas pelos historiadores ou das que fazem parte das representações dos alunos, de forma tal que eles encontrem significado no conteúdo que aprendem. Dessa maneira pode-se conseguir dos educandos uma atitude ativa na construção do saber e na resolução dos problemas de aprendizagem. É preciso que se leve em consideração o fato de que a História suscita questões que ela própria não consegue responder e de que há inúmeras interpretações possíveis dos fatos históricos e que, nesse caso, a problematização é um procedimento fundamental para a educação histórica.
Portanto, o tempo das ditaduras já passaram, como também está passando o tempo dos incompetentes. Não basta licenciar-se em história. O curso da UEG é bom. A Unidade de Itumbiara tem bons professores e funciona com uma estrutura razoável. Mas é preciso que vocês façam bom uso disso. Que tenham anseio por serem melhores, porque a sociedade contemporânea só tem espaços para os melhores.


LEITURAS SOBRE O TEMA:

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

LUKÁCS,George. Carta sobre o Stalinismo. In: Temas de Ciências Humanas, nº 1. São Paulo, Editorial Grijalbo, 1978.
MEDEIROS, Dayse. Manual de Estágio Curricular Supervisionado. Rio de Janeiro: Simonsen, 2006.

2 comentários:

  1. Gostei muito do seu blog, a frase que abre o site é de sua autoria? Caso não seja de quem é?

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    1. A frase do cabeçalho foi escrita num período meio conturbado em que eu estava dizendo muitas verdades e colhendo os arranhões de algumas delas.

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