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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CAOS E EDUCAÇÃO: INTERFACES - O BRASIL NÃO TEM FUTURO SEM EDUCAÇÃO.

A teoria do caos sustenta que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer  pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. A modernidade introduziu a reacionalidade como princípio básico de quase todas as nossas ações. Nesse sentido, as práticas, sobretudo quando emanadas de um ente coletivo, como é o Estado, necessariamente fazem-se a partir de planejamento, uma das expressões da racionalidade. Assim, como Édipo tentou fugir ao seu destino, o Estado moderno, através do seu sistema, procura fugir ao caos, que seriam as ações não planejadas e seus resultados inesperados. Pois bem, a imprevisibilidade de resultados tem sido, no caso do Estado brasileiro, uma máxima se analisarmos o descompasso entre as políticas educacionais, planejamento, e os resultados emanados da prática educativa do ente público, o caos.
Reconheço a importância de um sistema de educação nacional e, consequentemente, da validade de todas as orientações curriculares, bem como da legislação educacional, entendidos no quadro das políticas educacionais. O Brasil, desde que Pombal incumbiu o Estado do dever de educar, passou por muitas reformas educacionais. A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, popularizada como LDB, Lei 9.394/96, é um primor no que diz respeito à complementação da Constituição Federal referente ao direito à educação. Ainda que amealhado pela subjetividade, os Parâmetros Curriculares Nacionais, constituem o que temos de mais moderno enquanto teoria de ensino. Teoricamente, nosso sistema educacional é um primor. Na prática, prevalece o caos. Na prática não temos um sistema.

Não vou discutir a formação, enquanto sentido da prática docente, o que poderia facilmente ser questionado a partir dos grandes educadores como Paulo Freire, sobretudo na sua pedagogia da autonomia, Pedro Demo, e o seu pobreza política e tantos outros educadores que nos orientam no sentido da necessidade de uma educação para a cidadania. Ante a dramaticidade da situação, quero tencionar apenas  a questão da funcionalidade do sistema educacional brasileiro.

Sou professor por mais de 11 anos. Já trabalhei no entorno de Brasília - em escolas que os alunos precisavam levar cadeiras pra escola, se quisessem sentar - em outros municípios goianos -Estado e Municípios - e, minha experiência atual, no Estado do Pará. A primeira coisa que observei nessas experiências é que o sistema funciona na teoria, na prática, o professor faz o que acha certo, o que o torna suscetível de nem sempre estar certo. Aposta-se exageradamente na formação do professor, que sabemos é deficiente. E nessa aposta na formação, atribui-se ao professor uma autonomia irresponsável. Seguramente, em que pesem as vozes dissonantes, na escola o professor faz o que quer. Na minha experiência, e ela é suficiente enquanto quadro analítico, nunca me foi apresentado um programa a ser seguido, e, por consequência, tão pouco foi cobrado a realização desse programa. De praxe, apresenta-se ao professor chegante as suas turmas e o horário das aulas. O resto é com ele. Isso é grave. Mas o que permeia o mitier do professor.

Li recentemente um artigo brilhante do professor Antônio Severino, da USP. Ele relaciona, como quase todos os teóricos fazem, pobreza e educação. O professor apresenta dados sociais para poder falar de educação. É claro, como se pode falar em futuro de uma nação onde o governo gasta bilhões e mais bilhões de reais sem que os resultados do planejamento político possa ser alcançado porque, na base, persiste o descompasso entre planejamento e prática educativa? Mas o culpado, não quero sequer encontrar o culpado, não pode ser o professor-todo-poderoso. Ao contrário, o problema é o engano político que leva o poder público a acreditar que basta criar leis e programas novos. 

Complica ainda mais a situação, no caso do Pará, uma prática política doentia que confunde mandonismo político com política educacional. A escola paraense, em pleno século 21 ainda não ganhou a maioridade. A escola paraense é tutelada pelo Estado de tal forma que sequer pode escolher os seus gestores. Aí, ninguém precisa assumir responsabilidades, se o Estado é quem impõe, é dele também a responsabilidade.

A remuneração é outro fator agravante, mas não é o determinante. É grave saber que um policial civil de Brasília pode ganhar mais de 13 mil reais, de salário inicial, e um professor em Goiás pouco mais de 1,500 reais. Isso não é determinante porque falta explicação para o fato de um professor no Pará ganhar o dobro de um professor goiano e a educação paraense, onde o professor é bem remunerado, considerando o quadro geral da educação brasileira, ser uma das piores do país, em números.

Então, arrisco a dizer o que nenhum professor falaria publicamente, falta cobrança de rendimento ao professor. Falta responsabilização do professor. Mas isso tem se cobrado a nível de sistema. O que é uma coordenação pedagógica dentro de uma escola? Uma pessoa que corre atrás de aluno, organiza o horário, cobra diários e faz reuniões em que se apresenta dados, mas que pouco se discute tais dados. O conselho de classe, por exemplo, quase nada tem a ver com conselho de classe. Na maioria das escolas, realizado no final dos bimestres, caracteriza-se por relato sobre notas de alunos, não uma discussão sobre a situação do aluno. 

Eu sei que nem todas as escolas, assim como nem todos os Estados têm essa realidade como base. Sei que nem mesmo no Estado do Pará isso é uma regra. Por outro lado, é essa é uma máxima que prevalece na educação brasileira. Acredito firmemente que em se corrigindo essa situação, assim como apresentando solução para outras questões, como a qualidade da formação docente, tão deplorável, sobretudo nas faculdades particulares e nos cursos públicos ditos intervalares, podemos melhorar.  


 
  

3 comentários:

  1. Para mim também é aceita a teoria do causo, quando se trata de educação no Brasil. Todos nós sabemos q no país existem políticas educacionais, só q quando refletimos o que a realite nos mostra, descobrimos que na pratica a educação está dormindo, o que implica no desenvolvimento do estado ou até mesmo do proprio país.
    ( Joilson Moreira dos Santos)3º "F"

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  2. Sua reflexão é muito sóbria e amadurecida, companheiro, concordo com quase tudo que você expõe. Sei que no nosso estado, pois essa é a realidade que conheço, o professor tem o poder de decidir tudo relativo ao seu trabalho, isso não seria ruim, se fosse feito com responsabilidade. O professor decide se vai ou não dar aula, ou até se vai à escola ou a um boteco. E, não lhe é cobrado, nem mesmo falta ele recebe no contra-cheque. Nesse estado, esparramado nesse vasto território, esse déspota, que muitas vezes se torna o professor, dificilmente será incomodado. É claro que existem pessoas compromissadas com a qualidade da educação no Pará, mas essas são barradas pelo sistema que é feito para não funcionar. Já participei de inumeros planejamentos que nunca funcionam porque vem a greve, vem a formação que tira o professor da sala de aula, vem uma reforma fora de época para justificar um desviu de verbas, vem o sistema, lugar comum esse discurso porém válido, e o atropela.
    Então, companheiro, quando você diz "falta cobrança de rendimento ao professor", em parte isso é verdade, mas falta também as condições de trabalho para esse professor, primeiramente, para que lhe seja cobrado rendimento. Por exemplo, em uma região onde os termômetros marcam mais de 40 graus, ministrar aulas em salas lotadas, e sem nenhum sistema de refrigeração e ainda ter rendimentos positivos, é querer milagres.
    Quando você afirma "a educação paraense, onde o professor é bem remunerado" depende,se ele se matar em três horários, conseguirá sobriver, mas se resolver trabalhar dois períodos apenas, terá dificuldades no final do mês.Talvez comparando com o goás, como você cita, parece que somos "bem remunerados", mas não é se considerarmos o custo de vida entre os dois estados.
    Um grande abraço.

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  3. De fato meu caro Aurismar, é como eu digo, o salário é melhor quando comparado a outros salários que são piores. Mas, em se tratando de condições de trabalho e salário a discussão seria outra. Por exemplo, como entender um professor ganhando R$ 1.147,00 de salário base, para trabalhar num ambiente inadequado e, ao mesmo tempo, comparando a situação de Brasília, por exemplo, um policial civil ganhar mais de 13 mil reais de salário base para andar num carrão com ar condicionado? Quanto às condições de trabalho, que não foi o debate do artigo atual, nota-se, facilmente, que a educação não é prioridade na ótica de nossos agentes públicos.

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