PÁGINAS

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ALÉM DAS NOTAS DE REPÚDIO: O TERRORISMO DE ESTADO REQUER AÇÕES CONCRETAS

Li algumas notas de repúdio sobre a violência sofrida pelo professor Euzébio Carvalho, da UEG Campus da cidade de Goiás. Para tantos outros episódios de violência, variando o estilo de escrita, permanece a prática comum da nota de repúdio. Os autores dessas notas, geralmente lideranças ou gestores, o fazem na boa intenção de que manifesta a discordância aos abusos a que as notas se referem os autores de tais atos possam constranger-se em face dessa reprovação pública. Considerado esse caráter, as notas são importantes. Mas, sobretudo pela reincidência, como é o caso em Goiás, são inócuas enquanto resultado.

No dia seguinte à prisão dos manifestantes de Goiás alguns professores, colegas meus da UEG manifestaram a convicção de que era preciso uma resposta ao ocorrido. Quando houve prisões nas ocupações em Goiânia, inclusive do professor Rafael Saddi, o sentimento também era esse, da necessidade de reação.

Li, com muita indignação, as notícias sobre a estrutura de vigilância montada por polícias e gestores para seguir, e perseguir, pessoas comprometidas na luta que, a julgar pelas pesquisas que reprovam as reformas temerosas e marconistas, é de 70% da sociedade brasileira. Esse tipo de prática remete às ações dos agentes de organismos como SNI e DOPs em tempos que, somente hoje, se reconhece inequívoco e publicamente como ditadura, [essa “unanimidade” apenas o passado produz]. A repressão se avoluma e nós nos incomodamos na mesma medida em que nos acomodamos.

Gostei, sobremaneira, da nota de repúdio da direção do Campus Cora Coralina, Cidade de Goiás. É um texto corajoso quando se sabe que as direções de Campus na UEG não têm, sobretudo se querem ter mais algum mandato, muita margem de liberdade. Nesse sentido, a direção pôs o compromisso com o Campus acima dos limites de seus interesses próprios. Isso tem um valor incalculável, especialmente para os presos políticos.

Mas, isso não parece ter produzido resultados significativos. Avançam e ganham corpo as medidas que nos precarizam e as estratégias que nos cerceiam. O diálogo é uma possibilidade cada vez mais remota. Não interessa o que pensamos ou o que temos a dizer. Se pensamos ou se queremos dizer, nos prendem e nos metamorfoseiam em marginais. E isso é muito forte. Isso produz o medo naqueles que ainda não foram marcados com um número de processo. Isso põe medo no coração daqueles que ainda são virgens de cadeia.

Sim, precisamos fazer alguma coisa. Precisamos ir pra rua e enfrentar o monstro antes que seja tarde.

O Estado é o terrorista. Nossa luta não é mais contra as OSs. Nossa luta não é contra a Lei da Mordaça. A nossa luta não é contra a PEC. A nossa luta é contra todas as formas de opressão que cada uma dessas medidas, e todas elas, juntas, representam.

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