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sábado, 3 de março de 2018

MINHA ESPECIALIDADE É MATAR

"Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você", esse é um dos aforismos nietzschiano que melhor traduz o momento político-econômico que atravessamos no Brasil.

Para a imprensa brasileira a "grande notícia" sobre a passagem de um pré-candidato à presidência da República do Brasil em viagem pelo Japão, foi a histeria da multidão que o recebeu no aeroporto. Mas tarde vi um vídeo de uma reunião, ainda no Japão, em que esse pré-candidato foi questionado sobre como simplificar a burocracia para o pequeno empresário brasileiro, questão de política econômica. A resposta, depois de dizer que não entendia de economia foi, literalmente "[...] assim como não entendo de medicina; minha especialidade é matar" . [conforme link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Di8XFcBwd-s, observe o que diz a partir de 40 minutos de gravação]. Esse mesmo discurso já tinha sido feito pelo pré-candidato à presidência quando da sua passagem por Porto Alegre, como noticiou, à época, o jornal Folha de São Paulo [edição de 29/06/2017]. Não vemos mais o abismo porque já estamos no abismo. Não há mais o que ver, a não ser a saída. 

O homem cuja única especialidade declarada é matar apresenta-se como pré-candidato e, além de segundo colocado nas intenções de voto no país, é o primeiro colocado no Estado mais populoso do Brasil, São Paulo.

Além do abismo que produziu, desde o processo colonizador, os privilégios de alguns sustentados pela miséria de muitos, vivemos agora a crise daquilo que nos distinguia dos demais animais, a humanidade.

Sim, embora a face mais visível da crise que atravessamos no Brasil seja político-econômica, a essência da crise está nos valores humanos, postos em cheque não só nos discursos de ódio, mas também nas políticas de Estado, pautadas num processo brutal de desumanização dos mais fracos. Há uma espantosa recepção aos discursos de ódio que, por isso, proliferam e se transmutam em práticas, também de ódio como está sendo o processo de intervenção no Rio de Janeiro. O ódio, no Brasil, mas não só no Brasil, como prova o resultado da última eleição norte americana, tornou-se recurso preponderante na engrenagem política de captação de votos. Agora o ódio serve até como recurso de marketing para a imagem de um golpista decrépito.

O ódio, no momento, tem sido o melhor recurso discursivo na corrida presidencial.

O que se pode ver para além do abismo são as perspectivas de um projeto educativo - e tem sido essa a minha luta - em que, ao mesmo tempo em que se ensina a pensar, se ensine também a amorosidade pelo outro e pelo mundo.

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