O sonho de ser professor está em fase de extinção. Por isso, preservá-lo torna-se tarefa primeira, atitude cidadã fundamental.
Contra a possível extinção do sonho, só nos resta a ação consciente, reflexiva e, inevitavelmente, combativa. Mas, ação consciente germina de formação crítica, fator pouco vislumbrado, por exemplo, em grande parte dos atuais programas brasileiros de formação de professores.
Torna-se improdutiva a importante prática universitária de fomentar didáticas e debater metodologias quando o que está em jogo é a referida e possível extinção. O que queremos dizer com essas primeiras palavras é que o momento exige o fortalecimento extremo da formação política do professorado do país. Encontra-se nesse paradigma a possibilidade latente de transformar o atual cenário governamental que vem, inadvertidamente, conduzindo a carreira docente da educação básica para um baixíssimo patamar.
Se parte das instituições formadoras não contribuem a contento para a politização crítica do docente, então outros meios devem ser vigorados. Os professores do Estado de Goiás vêm mostrando que um desses meios é a ação coletiva, democrática, organizada, cotidiana, onde cada trabalhador da educação contribui para a formação política do outro, fazendo-o compreender que ações efetivamente transformadoras surgem do amadurecimento político, de indivíduo e grupo. As ruas, as redes sociais, as práticas sindicais, os diálogos, os debates, entre outros infindáveis meios, vêm cooperar para que as mãos dos professores não se soltem, não recuem, mas, contrariamente, avancem unidas em prol do fortalecimento das suas carreiras e, consequentemente, da qualidade da educação no estado e no país.
É admirável perceber que a força motriz original para a atual movimentação dos professores se deu a partir de um golpe orquestrado e executado pelo governo de Goiás. Ah, sim! Um golpe planejado em cantos escuros, obtusos, longe do povo, perto de políticos partidários que ainda não entenderam o sentido da representatividade democrática da qual participam.
Mas, afinal, que golpe é esse?
Trata-se de uma reformulação do plano de carreira do magistério público estadual realizada de modo repentino e antidemocrático em meio a um sistema de “meritocracia” que fundamenta um falso pacto, batizado de “Pacto pela Educação”. Será mesmo esse um verdadeiro pacto, senhor secretário da educação Thiago Peixoto? Quais são as partes que o compõem? Pactuar, secretário, significa ajustar, combinar, caminhar lado a lado por um objetivo comum. Mas, se professores e alunos não foram sujeitos da sua construção, então existe alguma possibilidade de denominá-lo pacto? Não, não há. O que há é uma política de governo feita de modo unilateral, com evidentes golpes desferidos contra os princípios da democracia.
Como estava na ilegalidade, à margem da lei, por não pagar o piso salarial determinado pelo governo federal, o líder da administração pública de Goiás, vulgo governador Marconi Perillo, resolveu esquartejar a carreira docente a fim de enquadrar-se na exigência nacional. Ou seja, para sair da condição de fora-da-lei, o administrador público, na companhia do seu desavisado secretário da educação, não teve piedade dos profissionais que há tempos trabalham em sala de aula por ideal, sem dignidade salarial, sem condições de trabalho necessárias ao bom desempenho de suas funções.
Para alcançar tal intento, governador e secretário exterminaram gratificações. E ainda mais: promoveram uma quebra de linearidade no reajuste para os docentes por meio de um abusivo decréscimo dos percentuais por titulação. Assim, para pagar o piso aos iniciantes na carreira – os quais merecem muito mais do que o valor mínimo determinado por lei –, prejudicou maquiavelicamente trabalhadores ilibados, senhores e senhoras do bem, pessoas que buscam na educação um modo de melhorar a realidade envolvente, bem como as relações entre indivíduos e povos.
É realmente estranha certa realidade produzida no Brasil: quem se encontra à margem da lei, governa. Quem utiliza a educação como meio de transformação, tem autoestima e bolso violentados por quem governa.
Mas, que lógica é essa?
É a lógica que busca enquadrar qualquer vertente da atividade humana em um contexto econômico-empresarial. Banhados por essa lógica, os gestores máximos da educação goiana vêm defendendo que a educação pública deve enquadrar-se a qualquer custo no desenvolvimentismo pregado pelas potências mundiais de maior poder financeiro. Não é à toa o fato de o referido secretário propagandear o seu curso de pós-graduação realizado nos Estados Unidos da América. Talvez ele não perceba que a fragilidade intelectual de quem se entrega a este modo de racionalizar faz de si mero objeto, guiado por alguém ou, em alguns casos, teleguiado por fontes corruptoras.
Mas, se, por um lado, a inadequada e pervertida formação política dos falsos líderes a cada dia mais se evidencia, por outro, a força dos professores goianos potencializa-se a cada instante. A greve que está em pleno curso é legítima! Mais do que isso: tem potencial para modificar realidades. Atos truculentos certamente surgirão por parte do poder arbitrário governamental. Porém, dessa vez, os docentes estão preparados, pois vêm se formando continuadamente naquilo que hoje há de mais importante: o exercício da ação política consciente. O movimento dos professores goianos será exemplo para o país, oportunizando a construção de uma dinâmica nacional de resistência e transformação. Retaliações de quaisquer ordens, advindas do poder público, serão transformadas em energia, em luta de maior intensidade por parte da comunidade docente.
Viva!!! O verdadeiro pacto pela educação está em curso!
Pactuar é não deixar o companheiro afundar, é solidarizar-se com o colega de profissão, é agir individual e coletivamente em prol da mudança, é proteger alunos e alunas de malfeitores engravatados, é lutar até o último suspiro pela justiça na educação. É esse pacto que ganha corpo nas ruas de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Luziânia, Rio Verde, Águas Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás, Trindade, Itumbiara, Formosa, Novo Gama, Jataí, Catalão, Planaltina, Senador Canedo, Caldas Novas e em cada um dos demais municípios goianos, onde se inclui fortemente a pequena cidade de Anhanguera, no sudeste do estado. Não importa o tamanho da população, mas a qualidade das atitudes por ela assumidas.
O sonho de ser professor não irá extinguir-se. Mas, como se vê, tudo depende da consciência crítica e da ação política de quem enxerga a verdadeira situação em que se encontra a educação em Goiás.
Você não vai ficar de fora dessa revolução, vai?
Seja bem-vindo ao universo dos que fazem da ação política uma prática reflexivo-crítica em prol de um mundo melhor. Nós, professores, contamos não só com o seu apoio, mas com a sua ação, com o seu envolvimento dinâmico, com o seu legítimo exercício de cidadania. Juntos a você, cidadão de bem, a vitória será nossa. Fica aí o convite. Vamos que vamos!
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