Li
algumas notas de repúdio sobre a violência sofrida pelo professor Euzébio
Carvalho, da UEG Campus da cidade de Goiás. Para tantos outros episódios de
violência, variando o estilo de escrita, permanece a prática comum da nota de
repúdio. Os autores dessas notas, geralmente lideranças ou gestores, o fazem na
boa intenção de que manifesta a discordância aos abusos a que as notas se
referem os autores de tais atos possam constranger-se em face dessa reprovação
pública. Considerado esse caráter, as notas são importantes. Mas, sobretudo
pela reincidência, como é o caso em Goiás, são inócuas enquanto resultado.
No
dia seguinte à prisão dos manifestantes de Goiás alguns professores, colegas
meus da UEG manifestaram a convicção de que era preciso uma resposta ao
ocorrido. Quando houve prisões nas ocupações em Goiânia, inclusive do professor
Rafael Saddi, o sentimento também era esse, da necessidade de reação.
Li,
com muita indignação, as notícias sobre a estrutura de vigilância montada por
polícias e gestores para seguir, e perseguir, pessoas comprometidas na luta
que, a julgar pelas pesquisas que reprovam as reformas temerosas e marconistas,
é de 70% da sociedade brasileira. Esse tipo de prática remete às ações dos
agentes de organismos como SNI e DOPs em tempos que, somente hoje, se reconhece
inequívoco e publicamente como ditadura, [essa “unanimidade” apenas o passado
produz]. A repressão se avoluma e nós nos incomodamos na mesma medida em que
nos acomodamos.
Gostei,
sobremaneira, da nota de repúdio da direção do Campus Cora Coralina, Cidade de
Goiás. É um texto corajoso quando se sabe que as direções de Campus na UEG não
têm, sobretudo se querem ter mais algum mandato, muita margem de liberdade. Nesse
sentido, a direção pôs o compromisso com o Campus acima dos limites de seus
interesses próprios. Isso tem um valor incalculável, especialmente para os
presos políticos.
Mas,
isso não parece ter produzido resultados significativos. Avançam e ganham corpo
as medidas que nos precarizam e as estratégias que nos cerceiam. O diálogo é
uma possibilidade cada vez mais remota. Não interessa o que pensamos ou o que
temos a dizer. Se pensamos ou se queremos dizer, nos prendem e nos
metamorfoseiam em marginais. E isso é muito forte. Isso produz o medo naqueles
que ainda não foram marcados com um número de processo. Isso põe medo no
coração daqueles que ainda são virgens de cadeia.
Sim,
precisamos fazer alguma coisa. Precisamos ir pra rua e enfrentar o monstro
antes que seja tarde.
O
Estado é o terrorista. Nossa luta não é mais contra as OSs. Nossa luta não é
contra a Lei da Mordaça. A nossa luta não é contra a PEC. A nossa luta é contra
todas as formas de opressão que cada uma dessas medidas, e todas elas, juntas,
representam.