As pessoas, comumente, confundem
política com politicagem ou com eleição. A política é uma especificidade do homem.
O homem que vive em sociedade é, quase por definição, um animal político. Isso significa
que a dimensão política da sociabilidade humana diz respeito não só às escolhas
de representantes políticos, mas ao conjunto das práticas e interações em que
os indivíduos têm de fazer escolhas, discursos, defender um ponto de vista ou
fazer impor sua vontade.
A filosofia alemã Hannah Arendt escreveu
um livro tentando responder à pergunta sobre o que é política. Hannah Arendt é
considerada uma das maiores pensadoras desde século e seu trabalho sobre as Origens
do Totalitarismo é considerado uma obra clássica e definitiva sobre o assunto.
Além disso, é uma das maiores autoridades em relação ao estudo da política na
Grécia e Roma antiga. Por isso, recomendamos a leitura desta autora. Alertamos
que Hannah Arendt não é uma leitura fácil, mas é imprescindível para
entendermos melhor o assunto.
Vejamos, então, como ela discute a
questão:
Para Hannah Arendt "O sentido da
política é a liberdade". Segundo ela, a idéia de política e de coisa
pública surge pela primeira vez na polis grega considerada o berço da
democracia. O conceito de política que conhecemos nasceu na cidade grega de
Atenas e está intimamente ligado à idéia de liberdade que para o grego era a
própria razão de viver.
Utilizando o conceito grego de política
é que Arendt nos diz que "A política baseia-se no fato da pluralidade dos
homens", portanto, ela deve organizar e regular o convívio dos diferentes
e não dos iguais. Para os antigos gregos não havia distinção entre política e
liberdade e as duas estavam associadas à capacidade do homem de agir, de agir
em público que era o local original do político. O homem moderno não consegue
pensar desta maneira pelas desilusões em relação ao político profissional e a atuação
desse no poder. Porém, Arendt, judia, que viveu os horrores da Segunda Guerra
Mundial, acreditava na ação do homem e na sua capacidade de "fazer o
improvável e o incalculável".
Vejamos o que diz Hannah Arendt: "A
política, assim aprendemos, é algo como uma necessidade imperiosa para a vida
humana e, na verdade, tanto para a vida do indivíduo maior para a sociedade.
Como o homem não é autárquico, porém depende de outros em sua existência,
precisa haver um provimento da vida relativo a todos, sem o qual não seria
possível justamente o convívio. Tarefa e objetivo da política é a garantia da
vida no sentido mais amplo" (grifo meu). Para ela, a tarefa da política
esta diretamente relacionada com a grande aspiração do homem moderno: a busca
da felicidade.
Não é fácil discutir a questão da
política nos dias de hoje. Estamos carregados de desconfianças em relação aos
homens do poder. Porém, o homem é um ser essencialmente político. Todas as
nossa ações são políticas e motivadas por decisões ideológicas. Tudo que
fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por nossa ações. A
omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros escolham
por nós.
Nossa ação política está presente em
todos os momentos da vida, seja nos aspecto privado ou público. Vivemos com a
família, relacionamos com as pessoas no bairro, na escola, somos parte
integrantes da cidade, pertencemos a um Estado e País, influímos em tudo o que
acontece em nossa volta. Podemos jogar lixo nas ruas ou não, podemos participar
da associação do nosso bairro ou fazer parte de uma pastoral ou trabalhar com
voluntário em uma causa em que acreditamos. Podemos votar em um político
corrupto ou votar num bom político, precisamos conhecer melhor propostas,
discursos e ações dos políticos que nos representam.
Não podemos confundir que política é
simplesmente o ato de votar. Estamos fazendo política como tomamos atitudes em
nosso trabalho, quando estamos conversando em uma mesa de bar ou quando estamos
bebendo uma cerveijinha após uma "pelada" de futebol. Estamos fazendo
política quando exigimos nossos direitos de consumidor, quando nos indignamos
ao vermos nossas crianças fora das escolas sendo massacradas nas ruas ou nas
"Febens" da vida. Conhecemos o Estatuto da Criança e do Adolescente?
ou o Código do Consumidor?, a nossa Constituição, nem pensar e grande demais. E
que dizer das leis transito que estamos a todo momento desrespeitando?
A política está
presente quotidianamente em nossa vidas: na luta das mulheres contra uma
sociedade machista que discrimina e age com violência; na luta dos portadores
de necessidade especiais para pertencerem de fato à sociedade; na luta dos
negros discriminados pela nossa "cordialidade"; dos homossexuais
igualmente discriminados e desrespeitados; dos índios massacrados e
exterminados nos 500 anos de nossa história; dos jovens que chegam ao mercado
de trabalho saturado com de milhões de desempregados; na luta de milhões de
trabalhadores sem terra num país de latifúndios; enfim, na luta de todas as
minorias por uma sociedade inclusiva que se somarmos constituem a maioria da
população. Atitudes e omissões fazem parte de nossa ação política perante a
vida. Somos responsáveis politicamente (no sentido grego da palavra) pela luta
por justiça social e uma sociedade verdadeiramente democrática e para todos.