Acordei, nessa manhã de 02 de novembro, dia de
finados, com a triste notícia da prisão do professor Euzébio Carvalho, pessoa a
quem respeito e estimo muito. O professor foi preso na UEG Campus da Cidade de
Goiás, primeiro Campus da UEG ocupado na luta contra a PEC da morte e outros
desmandos do governo temeroso que, em Goiás, encontra inspiração e apoio no
ditador do cerrado.
Como se sabe o governador de Goiás, Marconi
Perillo, inimigo da educação, por isso inimigo dos estudantes e dos educadores,
tem enfrentado grande resistência no seu projeto de privatização da educação
que, constitucionalmente, deve ser pública e obrigatória. Pouco afeito ao
diálogo a forma como o governador tem lidado com a contestação social ao seu
projeto é a repressão, para o que conta com professores que ocupam cargos
comissionados, liderados pela secretária de Educação, Raquel Teixeira, figura
execrável do ponto de vista dos educadores goianos.
Reportagem do jornal Ponte, publicada em 31/10/2016 já denunciava que professores e
alunos estavam sendo perseguidos e vigiados por policiais e até por outros
professores que atuavam a mando da secretária de educação.
Prof Euzébio algemado. |
A prisão do professor Euzébio e de alunos que
ocupavam o Campus Cora Coralina é uma consequência dessa estrutura repressiva
montada não só por Marconi Perillo em Goiás, mas Por Alckmin, em São Paulo;
Beto Rixa, no Paraná; Marcelo Miranda, no Tocantins e pelo próprio Temer, no
Brasil. Estamos revivendo a ditadura. O ano não é mais 1964, mas a estrutura
autoritária é a mesma. E essa estrutura conta, inclusive, com o apoio de
membros do judiciário, como o juiz Alex Costa de Oliveira, que recomendou a
tortura de alunos em Taguatinga-DF. Essa ditadura, como em 1964, conta com o
apoio de uma parcela significativa da sociedade, por acefalia ou por medo de
perder seus privilégios.
Os professores foram presos à noite pela tropa
de elite da polícia militar. Repito, tropa de elite. Durante a madrugada foram
levados para exame de corpo delito e pela manhã foram liberados. O objetivo não
é o cárcere. Na ditadura que se instaurou em 1964, também não era o cárcere. O objetivo
é atingir o espírito. Se quebra a resistência pela afetação moral. A prisão é
sempre um momento de extrema humilhação. Depois dessa primeira humilhação vem o
fichamento, o processo. Na gíria dos bandidos, os do estado e os bandidos
comuns, o sujeito não é mais virgem, tem
passagem.
Mas há algo maravilhoso nesse espetáculo dantesco,
ele envolveu a UEG e, com essa repressão, a tendência é o despertar dos dormentes. Como já descrevi em outros momentos a
UEG é uma jovem que cresce com sérias deformações e a síndrome de Alice no País das Maravilhas é uma destas deformações. O
professor Euzébio mesmo já foi vítima desse descompasso entre a realidade
social goiana e os limites de interpretação e intervenção da parte de docentes
e gestores. O boicote à visita do professor Rafael Saddi ao Campus de Uruaçu,
que falou para uma plateia esvaziada, é outro exemplo dessa demência.
O que o Marconi e seu esquadrão espera é que
essas pessoas, agora fichadas, mergulhem num quadro psicológico de medo. Esse é
o efeito mais terrível do processo, a incerteza diante de um Estado que já se
sabe arbitrário.
Não tenho dúvida de que, num ambiente tal,
somente a luta pode nos salvar.
Concluo por dizer, principalmente a você professor Euzébio, que o meu respeito e apreço por sua pessoa aumenta depois do ocorrido. Estou afastado da UEG, mas meu espírito sempre ansiou por uma Universidade que signifique, pelas práticas daqueles que a dão sentido, meio de efetiva autonomia e de engajamento do povo na luta que é do povo, principalmente daquele povo que hoje não se reconhece no be-a-ba mal lido que temos repetido todos os dias. Nesse sentido o comprometimento de vocês é didático e nos inspira.