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quinta-feira, 25 de maio de 2017

NÃO FOI CONFRONTO, FOI MASSACRE - POLÍCIA DO PARÁ ASSASSINA 10 TRABALHADORES NO SUL DO ESTADO



Trabalhadores assassinados pela polícia.

A polícia do Estado do Pará matou 9 homens e 1 mulher trabalhadores rurais no Sul do Estado do Pará. Na região, as pessoas acreditam que o número de mortos é maior.


Segundo a Comissão Pastoral da Terra, os trabalhadores estavam em posses reivindicadas pela fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d’Arco, Sul do Estado do Pará.



Tornado o caso público, as autoridades têm se esforçado para criminalizar as vítimas. 

Para a consecução desse objetivo, a operação, que inicialmente era de reintegração, agora é apresentada na imprensa como operação para cumprir mandado de busca e prisão.  

No Pará os bandidos mais violentos temem o Tático, força militar especial do Estado. Diz-se, popularmente, que com o Tatico não tem conversa, tem caixão. Além da fama desse grupo, há a convicção, já generalizada, que a polícia paraense tem predisposição à violência com os trabalhadores do campo. Todos temem, principalmente a polícia militar.

A essa polícia, temida por bandidos perigosos, querem fazer acreditar, agentes de segurança e meios de comunicação, que trabalhadores comuns fizeram frente. Quem em sã consciência trocaria tiros com uma polícia temida e fortemente armada? 

As primeiras notícias sobre o episódio davam conta de que teria ocorrido um confronto entre policiais e trabalhadores numa operação de reintegração de posse. No entanto, ao mesmo tempo em que os agentes do Estado tentam dar inteligibilidade a construção dessa ficção, vão aparecendo elementos que a desmontam. Segundo o delegado João Bosco, diretor de Polícia do Interior do Estado, no local, com os trabalhadores, foram apreendidas onze armas de grosso calibre, incluindo um fuzil 762 e uma pistola Glock modelo G25. Além do mais, a polícia pretendia cumprir mandados de segurança contra alguns trabalhadores que teriam assassinado um segurança da fazenda.


O absurdo dessa declaração só não é maior que a pretensão do agente público que considera a sociedade acéfala. Quem conhece a questão agrária sabe que o movimento dos trabalhadores nunca foi um grupo armado. Não é incomum haver apreensão de espingardas, geralmente utilizada em atividades de caça pelos trabalhadores. Mas, nesse caso, o delegado procura construir a ideia de um bando armado, faltou apenas apresentar granadas e outros artefatos de guerrilha ou de assalta a bancos. 

Ficção.

Não está explicado a natureza da operação. Era reintegração de posse? Tratava-se de cumprir mandados de prisão? O discurso muda conforme a conveniência.

Não se pode supor, nesse circo de horrores, que seja séria essa história de que se pretendeu expulsar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, prender alguns. Em se considerando que isso seja verdade, seria forçoso admitir que quem deu a ordem pretendeu criar um clima de tensão. E se tudo isso for verdade, é preciso questionar com que objetivo. Vingar o segurança?

Quem estuda a questão agrária no Brasil sabe que segurança é, e sempre foi, sinônimo de pistolagem no campo. A diferença é que, até pouco tempo, embora tenham ocorrido local de contratação de pistoleiros com endereço fixo, como o café central em Goiânia na década de 1980, hoje a estrutura é oficiosa ao ponto de constituir CNPJ.

A polícia matou porque foi pra matar. A polícia matou porque há, no Brasil, um ambiente de coisificação do trabalhador. A polícia matou porque no Pará os governos tucanos têm matado. A polícia matou porque há uma conjuntura que mata e continuará matando.

Mataram. Mas, jamais vamos aceitar o discurso acéfalo do confronto.