Júlio Cesar Guimarães, prêmio Vladimir Herzog |
O medo é o elemento que media a relação
entre a polícia militar e a sociedade brasileira. O medo alimenta o silêncio.
Alguns dizem que é herança da ditadura militar. De fato, é. Mas, se o Estado
brasileiro tornou-se uma “democracia”, essa herança só pode existir como
contradição a ser superada porque haveríamos de supor uma polícia, cidadã, zelando
pelo direito e fundamentando suas ações no respeito ao cidadão. Se a polícia é
incapaz disso, porque continuou sendo o que era no passado, a ditadura, ela
precisa ser destruída para dar lugar a um tipo de força cuja legitimação emane
da legalidade e não do seu oposto.
Esse não é um texto de opinião apenas. Neste
mês de maio, de 2014, ficou público um estudo da Anistia Internacional que
aponta que 80% da população brasileira acredita que, se um dia for presa, será
torturada pela polícia.
Nessa mesma tendência, em maio de 2012 o
Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu ao
Brasil que trabalhe para suprimir a Polícia Militar, acusada de torturas e de numerosas
execuções extrajudiciais (os famosos B.O de “morto em confronto com a polícia”).
Sargento Alexander Coelho, de Divisa Nova-MG, tortura pai e filho na frente de todos. Quantos na calada? |
Sou professor, e professores também
cometem crimes, como médicos, advogados e qualquer outro profissional. Mas a PM
tem que ser extinta porque o crime dentro da PM tem sido a regra e não a
exceção. É cotidiano. É ostensivo. Sei que existem agentes da polícia civil que
praticam crimes, da polícia federal, das guardas civis. Mas, o problema é que
na PM isso é institucionalizado na medida em que as práticas criminosas se
tornam cotidianas.
E quando são presos por essas práticas, vão para um "presídio" militar, onde mantém seus privilégios e são vigiados por outros PMs. Privilégios típicos da Ditadura Militar.
E quando são presos por essas práticas, vão para um "presídio" militar, onde mantém seus privilégios e são vigiados por outros PMs. Privilégios típicos da Ditadura Militar.
A PM na maioria das cidades brasileiras,
em vez de combater o crime, o alimenta. Um bom exemplo é o monopólio dos inferninhos por policiais militares. Em Marabá
eles monopolizam todos os inferninhos, a exemplo do Cupu Night, na Cidade Nova
e da Extreme, em Morada Nova. Cada leitor sabe quem é o dono do inferninho da sua cidade.
Queria saber, para apontar outro
problema, como um policial ganhando salário de R$ 2 a 3 mil reais junta
patrimônio de mais de 1 milhão de reais. Estranho isso.
É preciso dizer, porém, que existem boas
pessoas na PM. Eu tenho amigos, pessoas do bem, que são policiais militares.
Por isso, os bons poderiam ser aproveitados em outras forças, instituições que funcionassem
sobre outra lógica porque aquele velho discurso que em todo segmento existem os
ruins não cabe aqui, existir os maus é uma coisa, o mal impregnado é outra
coisa.
Defendo o fim da PM como defendo a
federalização da educação no Brasil. Isso não significa ser contra a existência da polícia, como não posso ser contra a educação. A Educação básica, à qual ainda tenho
vínculo, entregue a estados e municípios, por mais que se derrame dinheiro
nela, simplesmente não funciona. Nunca funcionou e nunca vai funcionar. E o que
não funciona é danoso. E o que é danoso precisa acabar. A PM, nos moldes atual, é institucionalmente viciada, e isso é danoso a todos nós.