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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Para que Serve a Filosofia?


Esta talvez seja uma das perguntas mais recorrentes no que diz respeito à Filosofia. As pessoas, em muitos lugares, estão sempre a perguntar, para que serve a filosofia? E a própria filosofia parece não poder desfazer-se dessa pergunta na medida em que ainda não aponta resposta clara a tal questão. A história, que parece ter um objeto muito mais claro uma vez que para o popular, a história é o estudo do passado, não sofre dessa necessidade de se explicar. Mas se explica. E foi um dos seus maiores colaboradores, Marc Bloch, quem, para satisfazer a curiosidade de seu filho, procurou responder a todos nós à questão da utilidade da História. Mas e a filosofia, para que serve? É sobre essa grande indagação, e sobre as possibilidades de resposta, que dedicarei as linhas que se seguem.

A Filosofia está ligada ao uso da razão. Razão remete a pensar. Pensar, porém, é muito genérico, ou seja, significa possibilidades ligadas ao intelecto humano. Pode ser pensar como raciocínio e pode ser pensar enquanto ato de refletir sobre uma ação ou realidade. Se perscrutarmos melhor terminaremos por concluir que raciocinar e pensar são duas existência que possuem conteúdos divergentes, embora ambas estejam no reino da razão. Raciocinar pode corresponder a, por exemplo, utilizar a abstração para resolver um problema matemático como uma equação de primeiro grau. Isso requer raciocínio. Pensar vai além. Pensar requer coragem, compromisso e caráter.

Quando se está diante de um fato como a corrupção política, a constatação do fato enquanto corrupção é quase natural. A atitude quanto ao posicionamento que cada um tomará ante esse fato é que poderá, ou não, envolver a ação reflexiva. Para manter-se neutro, e dessa forma colaborar com essa corrupção, não é preciso pensar, pelo contrário, basta apenas ignorar o fato enquanto fato. Os que optam por essa postura banalizam o ato e o transformam em piada, como se roubar dinheiro público, por exemplo, fosse natural, e por isso normalmente aceito, ou uma palhaçada da qual todos devessem rir. Riem não porque querem, mas porque dementes como são, obedecem a lógica daqueles que lhes corrompem e mantêm-se, assim, como se nada os afetassem. E tudo corre a meia vista porque se não aparecer na globo não aconteceu. Muito bem diz dessa situação Ney Matogrosso quando canta: “O que a gente faz / É por debaixo do pano / Pra ninguém saber / É por debaixo do pano / Se eu ganho mais / É por debaixo do pano / Ou se vou perder / É por debaixo do pano...”

Do outro lado estão os que pensam. Estes, precisam de coragem para fazer alguma coisa. De firmeza de caráter para manterem-se fieis àquilo que acreditam e sabedoria para definirem sua ação. É aí que entra a resposta ao para que serve a Filosofia. A filosofia para uma sociedade de dormentes, não serve para nada. Nas ocasiões em que as circunstancias aproximam nossa sociedade à típica sociedade de bestalizados ausente está a possibilidade da Filosofia enquanto uma prática. De outro lado, na medida em que pessoas se orgulham de poder pensar numa mudança, pessoas se comprometem com a transformação daquilo que precisa ser mudado e passam a ensaiar essas ações de mudança, aí está presente a filosofia. E aí torna-se necessário a filosofia.

A filosofia, portanto, não é ciência dos intelectuais. É ciência do homem comprometido com o seu tempo, com o seu lugar, consigo e com todos. A filosofia é a ciência do homem que descobre-se a si mesmo e ao mundo. A filosofia é a ciência da descoberta. Se, como diz Sócrates (PLATÃO, ), “a vida que não se questiona não vale a pena viver”, o questionamento, como princípio filosófico, torna-se ponte entre o que é e o que pode vir a ser. É um pensar sobre a realidade numa re-flexão revolucionária. A filosofia não é ciência dos intelectuais porque é ciência de todos os que ousam pensar.

Essa é a utilidade da filosofia. Re-flexão não é abstração pura, nem contemplação transcendente. É um pensar sobre a ação e uma ação sobre o pensar. Requer, portanto, compromisso com a realidade. Não se pode ser filósofo neutro ante a realidade de corrupção, de desigualdade e de violência. A filosofia representa, em última análise, o despertar dos dormentes e a transição dos bestalizados para homens históricos, filósofos comprometidos e transformadores revolucionários de uma realidade que precisa de transformação. Essa é a melhor resposta, que posso imaginar, sobre a utilidade da filosofia.


Bibliografia de Apoio:


BLOCH, Marc. Apologia da História, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.

BORGES, Barsanufo Gomides. O despertar dos Dormentes: estudo sobre a Estrada de Ferro de Goiás e seu papel nas transformações das estruturas regionais: 1909-1922. Goiânia: Cegraf, 1990.

MATOGROSSO, Ney. Por Debaixo dos Panos. In: letrasdemusicas.clickgratis.com.br/.../ney_matogrosso/index.html.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. Pará de Minas: Virtualbooks, 2003.