Dois dias depois da votação de 02 de outubro a imprensa, sobretudo o grupo Roberto Marinho repercutiu, com grande espaço para a necessidade da Reforma Política proposta por Aécio Neves, a crescente percentagem dos brasileiros que exerceram a desobediência civil e não compareceram para votar.
No jornal Bom Dia Brasil se disse que para as pessoas voltarem a tomar gosto pela política [na verdade votar] é urgente que se promova a Reforma Política. Segundo o telejornal há duas propostas no Congresso [na verdade são várias]. Na sequência, com um belo discurso do senador Aécio Neves, se falou da proposta que acabaria com os pequenos partidos, como o PC do B e o PSOL. Para a Rede Globo e as mídias replicadoras o problema político brasileiro é ter 35 partidos, resultando dessa constatação a necessidade de reduzir esse número.
Por esse raciocínio, se tivéssemos apenas dois partidos todos os eleitores teriam votado.
Qualquer idiota, no entanto, sabe que a verdade não é essa.
Primeiro, 17,58% de abstenção significa, além dos óbitos, o índice de pessoas que perceberam a picaretagem como essência da estrutura política no Brasil.
Segundo, o Brasil já passou pela experiência de poucos partidos. Na primeira república, também conhecida como república velha, tivemos poucos partidos. Na ditadura tínhamos apenas dois partidos. Esses são os exemplos que a história nos dispõe. E o que era a vida política do povo? Até quem não foi à escola sabe tratar-se dos dois momentos mais obscuros da nossa história.
O problema não é haver 35 partidos políticos. O problema não é das siglas partidárias. O problema é o tipo de homem que se apresenta sob a sigla.
O terceiro elemento a se considerar é o segredo por trás dessa proposta de Reforma. Atualmente temos grandes partidos, como o PSDB, PMDB, PT e DEM. Esses seriam os partidos beneficiados por essa reforma. Atualmente os mais corruptos da República.
No entanto, parte de pequenos partidos, como o PSOL, propostas que nenhum grande partido teria condição de formular, como o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha, protegido da justiça brasileira.
Existe uma diferença entre grandes e pequenos partidos importante. Os grandes partidos estabelecem conexões com o poder através de negociatas, independente de siglas. Os acordos constituem a condição de governabilidade. O poder executivo precisa negociar com as grandes siglas para, independente do que faça, manter-se no poder.
As pequenas siglas não têm poder de barganha. Elas ficam alijadas dessas negociações e, exatamente por isso, ficam livres para o exercício do mínimo que o povo espera de seus representantes.
O pano de fundo da proposta de Aécio Neves é a eliminação de partidos que, historicamente, têm se constituído como crítica às estruturas de poder.