A simetria, possibilidade de uma relação dialógica, foi substituída por uma hierarquização na qual o professor se tornou refém dos alunos. |
Esse é um recurso lingüístico para chamar a atenção para um tema, a violência na escola, que, embora gravíssimo, está sendo encarado pela sociedade apenas com assombro. As cenas só não são mais cotidianas porque, tornadas banais pela repetição, parecem indicar aos telejornais que não produzem mais audiência.
A escola se tornou, não há como negar, um espaço privilegiado de manifestação dos conflitos de uma sociedade que tende incessantemente a menosprezar não só a vida, mas todo um conjunto cultural de valores que a humanidade levou milhares de anos para edificar. A linguagem não nasceu do dia para noite. No entanto, o desenvolvimento da linguagem, em tempos remotos, possibilitou às sociedades outro nível de relacionamento e solução de conflitos. A linguagem, a agricultura, o controle do fogo e as relações interpessoais mediadas pelo afeto, só para citar alguns exemplos, resultaram de uma evolução que aproximou o ser de um Ser Humano. Dessa evolução crescente nasceu a família, o Estado, as leis e a escola.
Mas agora, enquanto assisto, impotente, pessoas tão jovens se transmutarem em qualquer coisa pior que animal selvagem, fico consciente de uma mudança terrível em curso. Não posso dizer que estamos regredindo porque isso seria muito bom. A regressão, por impossível que seja, poderia nos levar a similaridade ao modelo de vida pré-histórico[1] e isso, de cara, nos faria respeitar a natureza, porque assim viviam as sociedades pré-históricas. E desse respeito suscitariam outros.
Professor preso, depois de apanhar da PM, na última greve em São Paulo. |
Professores estão apanhando. Na verdade, não há, nessa nossa sociedade brasileira, figura mais medíocre que a do professor. Ele deve apanhar, do Estado e da sociedade, através dos filhos que a sociedade põe na escola. Ele não precisa ganhar dinheiro, porque, por exemplo, zelador da moral, professor não deve sair night. Enquanto pessoa sem vida social, introspectivo e passivo não há, razoavelmente falando, qualquer razão para que professores e professoras, estas últimas recalcadas, ganhem um salário, por exemplo, correspondente ao de um PM, com formação de nível médio, que aperta o gatilho para matar o jovem, sem família, que o professor não educou.
[1]Enquanto historiador tenho o dever de alertar o leitor de que pré-história, enquanto período da experiência humana na terra, não existiu. Tudo é história. Desse modo, o uso do termo é apenas uma forma de localizar o leitor na referência temporal, a partir de um uso corrente, conhecido pelo leitor, produzido por historiadores clássicos, no entanto, equivocado, no meu ponto de vista, não clássico.