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sábado, 30 de janeiro de 2016

TERROR EM GOIÁS

É muito grave e preocupante o caso do professor Rafael Saddi, docente da Universidade Federal de Goiás, UFG, perseguido pelo governo de Goiás depois que expôs o terrível esquema por trás da proposta de gestão escolar pelo sistema de organizações socais apresentado pelo Governo do Estado de Goiás, Marconi Perillo.

Homens armados, sem identificação. Carrancudos. Homens da escola de produzir medo. O professor foi conduzido a uma delegacia. Lavrou-se boletim e estabeleceu-se abertura de inquérito contra ele. No processo, ao que tudo indica, vão querer saber a medida da razão e o alcance da imaginação do professor Saddi. Teatro dos vampiros. Uma mente jovem e brilhante ameaçada pelo ácaro das celas frias. Um cara que gosta de rock ameaçado pelos homens que comem cabeça de gente que pensa. Tudinho daquele jeito que se fazia alguns anos atrás quando policiais invadiam casas no meio da noite e levavam pessoas para responderem inquéritos os mais sórdidos possíveis. Maldita, ditadura.

Walter Benjamim considerava que o monopólio da violência pelo Estado era o pressuposto da sua existência. Essa, aliás, foi a evolução entre os feudos e a centralização do poder, o monopólio da força. A modernidade despiu o chefe de Estado da possibilidade da tirania a fazê-lo dividhoir o poder e ele próprio o exerce apenas na medida da vontade do povo. O contrário disso, é o totalitarismo. E todas as tragédias do nosso tempo decorreram dessa centralização totalitária do poder. O nazismo, o fascismo e o stalinismo são os exemplos mais conhecidos.

Essa experiência, que me parecia possível apenas no contexto de um controle mais amplo, da nação, está sendo vivida atualmente em Goiás. Marconi Perillo é hoje, sem dúvida, o homem mais perigoso e temido em Goiás. Os juízes lhe servem. O legislativo lhe obedece. A imprensa lhe bajula. Não há um segundo ou um terceiro poder, há apenas a sombra do manto todo poderoso de um homem, o governador, contra quem não se pode levantar a voz sob o risco da destruição social sob múltiplas manifestações, desde a prisão fria sob acusações inglórias às injúrias públicas vergonhosas lançadas ao vento e colhidas pela mediocridade da sociedade que alimenta o monstro personificado nesse governo.

Acusam o professor Saddi de formação de quadrilha. Na Grécia Antiga o pedagogo, ou o professor, acompanhava e zelava pelos seus discípulos. É da natureza da docência a defesa dos alunos. Em história à fabricação de fatos, nós chamamos de falsificação. Uma característica do totalitarismo é exatamente o poder de fabricar e dar sentido aos fatos. A ditadura torna viva a fábula do lobo onde não importa a verdade, importa o poder que o lobo tem de devorar o mais fraco.

O governador é como a madrasta da branca de neve, não admite outro reflexo que não seja o da sua glória. Assim, por escrever esse texto, sei que posso sofrer represálias. Há muito perdeu-se, em Goiás, a liberdade de se falar do governo qualquer outra coisa que não sejam elogios. E para os elogios há os grandes, como o Diário da Manhã, O Popular, Jornal Opção.

Saddi tornou-se criminoso, na ótica do Estado, quando explicou o que eram as OSs. O Sistema de OS consiste na contratação, pelo Estado, de uma empresa para gerir as escolas públicas, da limpeza ao contra.to do professor. O dinheiro a ser investido com educação, o maior gasto que o Estado tem, não será mais aplicado diretamente pelo ente público, mas repassado a uma empresa para que esta o administre como seu. A escola pública vira um negócio privado, só que bancado com dinheiro da sociedade.

Professores e grupos socais lutam contra o autoritarismo de Perillo.
No norte do Estado tenho conhecimento da primeira OS formada, especialmente para firmar contrato com o Estado. Na presidência está uma figura execrável que, depois de ter sido considerado o reizinho da ueg, foi expulso após uma ocupação do prédio da reitoria. Era o reitor de botas, sujeito que comandou a UEG, a serviço do Marconi Perillo num dos tempos mais inglórios da instituição. Agora vai ficar com a fatia do norte, na divisão do queijo entre os ratos, que não são poucos.

Foi contra isso que Saddi indignou-se.

Sartre, num belo texto em resposta às críticas marxistas que sofria, disse que os homens são determinados pelas escolhas que fazem e as escolhas são feitas em face das circunstâncias. O engajamento intelectual, nesse sentido, resultaria da determinação em comprometer-se com a transformação do mundo ou, nesse caso, simplesmente não resignar-se ao silêncio frente ao arbítrio que se instalou em Goiás.


Saddi poderia, como um marxista, discursar sobre as mazelas do capital enquanto degusta uma Bohemia ou antártica original. Mas preferiu ajudar divulgar informações sobre as OSs e acompanhar, e criticar, a violência policial contra os alunos que resolveram ocupar as escolas em que estudavam como forma de dizer não às OSs. Poderia, nada fazendo, guardar toda energia para um discurso didático teorizando a realidade sobre a qual não atuou. Mas preferiu teorizar intervindo no mundo. A você Rafael, todo o meu respeito.