A popularização dos contos, em todas as sociedades e tempos, decorre dos valores ou da capacidade da narrativa de repercutir o contexto do seu enredo. Dito de outra forma, as narrativas precisam ter significância para o público leitor. É nesse sentido que o conto A Pequena Anette é constitui uma das mais ricas narrativas populares sobre a sociedade medieval. Seu pano de fundo, a fome. E, embora não fosse a fome o único problema de uma sociedade que era, essencialmente, medrosa, doente e atolada na superstição religiosa, a carência alimentar já diz muito.
A jovem Anette, órfã, vivia juntamente com
a madrasta e suas filhas. Anette alimentava-se com um pedaço de pão por dia
dado por sua madrasta. A menina ficou magrinha pela má alimentação. Já as
filhas da madrasta se alimentavam por dia com carne de carneiro e muitos outros
deliciosos alimentos, enquanto a garota órfã trabalhava no campo e ainda lavava
as vasilhas sujas das refeições que não fazia.
Num belo dia, a situação da menina órfã
mudou, a pequena Anette recebeu da Virgem Maria uma varinha mágica que produzia
um enorme banquete quando tocada em uma ovelha negra. Rapidamente, Anette foi
ficando gorducha, de acordo com o seu desejo, pois a pequena jovem estava
aderindo aos padrões de beleza da Idade Média (nesse período, o padrão de
beleza feminino era a mulher com peso avantajado).
Com Anette engordando através da mágica,
logo sua madrasta descobriu o segredo e mandou matar a ovelha negra. O fígado
da ovelha foi oferecido à Anette, que o enterrou sem o conhecimento da
madrasta.
A órfã, após ter enterrado o fígado, se
surpreendeu, pois no local nasceu uma árvore enorme que ninguém conseguia pegar
os frutos. Somente Anette se alimentava dos frutos daquela grande árvore, que
abaixava os galhos para a menina alcançar as frutas.
Com o passar do tempo, um príncipe guloso
fez a promessa de se casar com a pessoa que conseguisse colher os frutos. Como
a árvore obedecia somente à Anette, a menina colheu os frutos para o príncipe,
que se casou com a jovem e eles viveram felizes para sempre.
A camponesa órfã
ascendeu à nobreza, ganhou regalias e ficou isenta do pagamento dos impostos.
No entanto, essa ascensão social camponesa na Idade Média era praticamente
inviável, somente possível nos contos.