Esse Pará, no Sudeste, não existe mais. |
Quando defendia o "não" estava defendendo um suposto "estado de natureza" que imaginava existir e que queria preservar. Tinha muito claro que a divisão do Estado resultaria em progresso da região e progresso significa problemas ambientais, como desmatamento, represamento de rios e outros temas da mesma natureza. Pensava nas terras indígenas atravessadas pelo maquinário do homem branco e no aumento dos conflitos agrários e ficava convicto que dividir o Pará não seria bom para o Brasil, porque era preciso preservar esse canto verde para os pulmões da nacionalidade inteira.
O Sudeste paraense, de hoje, nasceu da grilagem e do fogo. |
Então, percebi que ao Pará só faltava o progresso.
Mas fiz outra grande descoberta, essa mais cara de ser dita aqui: o povo paraense, quanto ao progresso, é retrogrado.
Dia 11/12 foram às urnas e, democraticamente disseram "não" à divisão. E qual foi o motivador? Isso só Deus sabe. Mas, simples mortal, conjecturo a partir de alguns discursos, bem vazios é verdade. Alguns justificaram a negação porque "queriam o Pará grande", outros porque se opunham ao projeto porque este representaria ideais alienígenas ao povo paraense que, nesses discursos, apareciam identificados geograficamente com o povo de regiões como Belém e Cametá. O que negavam, no entanto, era simplesmente a possibilidade de progresso.
Os defensores do "sim" alardeavam que o Estado só desenvolve a região de Belém. Mas, que desenvolvimento há na região de Belém. Belém é a maior carniça a céu aberto que tive a oportunidade de conhecer. Sei que é duro dizer isso porque muitos que admiram vão protestar ante tamanha sinceridade. Mas, vejamos, o Ver-o-peso é um dos principais cartões postais de Belém. Mas, o Ver-o-peso tem som, cheiro e sabor. Som da balburdia, cheiro de podridão e sabor de cerveja barata. E em Belém, o que não é podridão, marginalidade e gente honesta, no meio de tudo isso, querendo ganhar a vida? Talvez a Avenida Nazaré e algumas regiõezinhas do centro da cidade, mas bem do centro mesmo; porque se pender um pouco pras beiras, aí a coisa vai feder novamente.
Urubus, marca indelével do Ver-o-peso, e porque não dizer, de Belém. |
Seria possível imaginar Belém sem urubus? E que progreso há em Belém? Hospitais super-lotados; ruas que viram mar sempre chove; ausência de saneamento; iluminação pública inexistente em grande parte da cidade; vias, onde existem, em péssimas condições de conservação, e muito mais poderia ser dito. E a região? Ananindeua, Marituba, Castanhal; indo um pouco mais para o interior, Igarapé-miri, Cametá? O caos é generalizado! Falta quase tudo, mas não falta o jeito paraense de ser.