Outro dia, após arrigementar um exército de advogados e outros agentes da costura do poder, retornando de Belém onde, por força de uma liminar, havia conseguido o direito de continuar administrando alguns milhões de reais que pertence ao povo marabaense, o prefeito Maurino declarou a um programa de TV local que Marabá era um município muito visado. Eu, que de pé, na companhia de alguns operários que comiam apressado, assitia a tudo meio impaciente, entendi tudo.Sim, Marabá é um município muito visado. Aqui quem detiver o poder, deve fazer tudo para se manter no poder o maior tempo possível e, ao mesmo tempo, fazer tudo para subtrair o mais rápido possível. E nessa luta insana, quem estiver no poder deve instrumentalizar tudo.
No mesmo dia li, em pontos estratégicos da cidade, vários autdoors com a inscrições que diziam que a perseguição política atrapalhava o desenvolvimento do município. Só na chegada ao bairro de Morada Nova, no sentido de quem chega de São Felix, são dois imensos autdoors. Pelo que se pode ler, a ação que é judicial é prejudicial ao povo marabaense. Isso significa que o prefeito de Marabá tem carta branca para fazer o que lhe vier à cabeça, porque se alguém denunciar algum crime seu estará atrapalhando o município.
O interressanteé que sou morador de Morada Nova, portanto, a associação de moradores desse bairro é um órgçao que fala por mim. Mas, por outro lado, não compartilho dessa opinião de que os agentes públicos, nesse caso o prefeito, esteja acima da Lei. Isso equivaleria a pensar, por exemplo, que estando todos em igualdade constitucional, os bandidos que estão presos no CRAMA deveriam receber liberdade e arquivados os seus processos, porque a justiça, em cada caso, estaria atrapalhando alguma coisa (a atividade criminosa de cada processado).
Em benefício de quem falam os presidentes de associações? Quem está pagando por essa mega campanha publicitária pró-Maurino? Morada Nova é um bairro esquecido. As ruas são mal iluminadas, aguns bairros não têm asfalto, falta policiamento. Em Morada Nova falta quase tudo e essa ausência do poder público é tão latente que há um forte sentimento separatista em relação à Marabá. Mas, mesmo nesse caos em que vive o povo de Morada Nova, o presidente da Associação torna público, como se fosse o pensamento do povo do bairro, que considera errado que a justiça investigue um agente público, o prefeito Maurino, que tem a responsabilidade de gerenciar milhões e milhões de reais.
Me sinto na obrigação de dizer aos presidentes de associações que o prefeito Maurino não está acima da Lei e, se assim o parece, não é por nenhum meio lícito.
Outra reflexão necessária é sobre o papel dessas associações. A que servem? Têm provomido muitos cursos em parceria com a prefeitura. Mas, historiador, sei muito bem o histórico dessa prática. É o famoso "toma lá, dá cá". São migalhas jogadas aos passáros, pedacinhos de pão que conduzem à arrapuca. As associações historicamente nasceram num contexto de luta, não eram instrumentos nas mãos de políticos corruptos, como é hoje, mas eram mecanismos de pressão sobre o poder público para garantir direitos fundamentais dos modradores de determinados bairros. Hoje, em Marabá, a associação não luta, troca favor. O presidente da associação não tem um histórico de luta, tem uma relação de amizade com o prefeito, com o vereador, com o deputado, a deputada, o filho do prefeito e outros costureiros.
Bem sei minhas palavras têm pouco eco. Mas, ante tamanha insensatez alguém tem que dizer que não é cego, que não é surdo e que não é jumento. Então, senhores presidentes de associações, cabos eleitorais de políticos com pouco compromisso ético com o povo, saibam que vocês escrevem, mas eu questiono.