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terça-feira, 27 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL: A LUTA PELA QUALIDADE TEM QUE SER UM COMPROMISSO ÉTICO-DOCENTE

A classe precisa desenvolver uma auto-percepção.
O professor da rede pública municipal tem uma remuneração inferior a servidores do mesmo município com formação fundamental, um motorista, por exemplo. Sempre considerei isso um absurdo. Mas pior foi ficar sabendo, através de colegas professores que mobilização no município não funciona porque a classe tem medo de perder o emprego.

Muito bem. Isso explica tudo. Mas, nesse caso, quero lembrar do que defende Paulo Freire em seu Livro Professora sim, Tia não. Para o grande educador um dos compromissos éticos do professor deve ser exatamente com a luta por melhorias da sua condição de trabalho, o que inclui a remuneração, afinal, considera Freire, quem não pode lutar por si, não está apto a lutar por ninguém.

O debate sobre a educação é escamoteado.
É de fato uma trajédia que boa parte dos meus colegas vivam ajoelhados, como se já estivessem feridos de morte. A sensação que tenho, observando a realidade da escola em que trabalho, é que para muitas pessoas ter esse sub-emprego - considerando a condição marginal da classe - já é mais do que ousaria sonhar. Aí, nesse caso, se instaura a velha política do "toma lá, dá cá". Se professores trabalhando em regime de contrato temporário pensam o contrato como um favor, para estes, a greve seria uma infidelidade em relação a esse favor. E há maior pobreza política que esse pensamento.

Não tenho dúvida de que, mais que qualquer outra área, a educação é hoje onde se concentra de modo mais nítido aquilo que desde 1930 a sociedade brasileira tem se esforçado por superar, a saber, as práticas coronelistas. Percebo que, embora muitas áreas do funcionalismo público gozem de alguma autonomia, a educação está seriamente amarrada aos desmandos do gestor municipal, não importa quem seja ele. O excesso de profissionais da educação em regime de contrato temporário e a imposição da gestão na escola constituem óbice, mas a ignorância política é o embargo fundamental.

Hoje, mais do que nunca, se faz necessário uma greve geral da educação municipal em Marabá. É preciso parar e manifestar-se. É preciso mobilizar a opinião pública. É preciso angariar apoio a essa causa. Mas é preciso, fundamentalmente, que pessoas que estão nas escolas se descubram parte de uma classe que precisa lutar e definir, na luta, a sua identidade enquanto educadores. A luta, nesse sentido, é também luta pela definição da identidade de classe. O professor tratado como cão, tal qual o é hoje, precisa impor a dignifidade da sua função, o que requer reconhecimento e valorização.