HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 6a. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
Resumo
Resumo
O objetivo apresentado pelo autor na proposição de sua obra é analisar questões sobre a identidade cultural na modernidade tardia e avaliar a possível existência de uma crise de identidade. Nesse sentido, a primeira parte do livro analisa as dinâmicas que produzem a mudança nos conceitos de identidade e de sujeito. Na segunda parte segue a temática da volatilidade da identidade abordando desta feita a questão da identidade cultural. A perspectiva do autor é de que realmente as identidades modernas estão sendo deslocadas ou fragmentadas, entender esse processo é a base desse trabalho.
Palavras-chave: identidade, crise, modernidade, cultural.
Stuart Hall esclarece no início do seu trabalho que o próprio conceito de identidade é complexo decorrendo daí uma dificuldade na análise das mudanças e, ou crise da identidade. A mudança se opera na sociedade moderna, que é uma mudança estrutural afeta o indivíduo enquanto sujeito e a comunidade enquanto coletivo deste sujeito. A rapidez com que se operam tais mudanças, das quais o autor diz que “alteram as paisagens culturais de classe, gênero, etnia, raça e nacionalidade” (HALL, p. 11) provoca no sujeito um sentimento de perda de “si mesmo”, pela perda de suas referências. Essa relativização do sujeito é um fenômeno perceptível, segundo Hall, a partir do iluminismo quando as certezas do velho mundo são deslocadas.
Palavras-chave: identidade, crise, modernidade, cultural.
Stuart Hall esclarece no início do seu trabalho que o próprio conceito de identidade é complexo decorrendo daí uma dificuldade na análise das mudanças e, ou crise da identidade. A mudança se opera na sociedade moderna, que é uma mudança estrutural afeta o indivíduo enquanto sujeito e a comunidade enquanto coletivo deste sujeito. A rapidez com que se operam tais mudanças, das quais o autor diz que “alteram as paisagens culturais de classe, gênero, etnia, raça e nacionalidade” (HALL, p. 11) provoca no sujeito um sentimento de perda de “si mesmo”, pela perda de suas referências. Essa relativização do sujeito é um fenômeno perceptível, segundo Hall, a partir do iluminismo quando as certezas do velho mundo são deslocadas.
Para entender melhor tal proposição Hall apresenta três tipos de indivíduo envolvidos nessa temática: o sujeito do iluminismo, que se encontrava seguro, unificado e centrado na segurança da racionalidade; o sujeito sociológico cujas base eram as relações sociais, aqueles que lhe eram caros e a relação sujeito/sociedade. Nesse caso, preenche-se o o espaço interior, do iluminismo, de um ser centrado em si mesmo e exterior, de um ser agora social. Nessa concepção a identidade é estabelecida na relação entre o sujeito e a sociedade. Isso significa dizer que o “eu real” do indivíduo se altera pelas suas relações com o exterior sendo essa a forma de costura operada pela identidade entre o indivíduo e a sociedade. Isso resulta em mudanças na medida em que o mundo exterior processo a dinâmica do seu continuo. Chega-se então à identidade pós-moderna que fragmentada por não ser fixa, nem essencial ou permanente.
O autor chama de modernidade tardia o processo de globalização que, inegavelmente, processa alteração no campo das identidades. A globalização em si já caracteriza as sociedades modernas como sociedades de mudanças. Há aí um “desalojamento do sistema social” (p. 15) que resulta do modelo moderno da globalização que “nos livra de todos os tipos tradicionais de ordem social”, o que o autor chama de descontinuidades que é um contínuo processo de rupturas.
Uma proposição de análise política da questão da identidade que procura responder o que está em jogo nessa fragmentação ou pluralização de identidades é apresentado a partir de um caso específico: a indicação de um juiz negro norte americano para a suprema corte daquele país. O resultado da situação, que tinha claros contornos políticos, foi que houve um jogo de identidades – diversificadas – nas quais as identidades eram contraditórias; essas contradições era internas e externas a cada indivíduo; as paisagens políticas do mundo moderno são fraturadas por identidades rivais e deslocantes e, por fim, se a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpretado – como feminista, não feminista, liberal, conservador, homossexual, etc – a identificação pode ser ganha ou perdida, uma vez que não é nem automática nem fixa.
O autor procura identificar como ocorre a mudança do conceito de identidade, com compromisso de, em seguida, analisar o aspecto da identidade cultural moderna formado através do pertencimento a uma cultura nacional e como os processos de mudança afetam essa realidade. Nesse sentido, sobre o conceito de identidade e as mudanças relacionadas a esse conceito o autor, levando em conta inicialmente a questão conceitual, a apresenta relacionada com a compreensão de sujeito moderno, afinal a identidade não tem existência própria, ela é aquilo que o sujeito é, ou seja, a identidade do sujeito ou do grupo. O sujeito moderno, tema desse trabalho, é antes de tudo descentralizado em sua identidade e a emergência desse sujeito moderno, num momento que é o do iluminismo, subtende nesse movimento de nascimento e mudança, a possibilidade de sua morte.
A liberação do indivíduo frente às instituições, de modo especial religiosa, processou-se a partir da Reforma e do protestantismo, tendo segmento com o humanismo, as revoluções científicas e o iluminismo. Era o nascimento do homem moderno que tinha René Descartes como “pai” com o seu penso logo existo substituindo as determinações eclesiásticas. John Locke, com a mesmidade racional, deu seqüência ao trabalho de Descartes e concluiu o trabalho formal de criação do homem moderno fundado na racionalidade e na individualidade. Os grandes processos da modernidade centravam-se, assim, no indivíduo sujeito-da-razão.
À medida, porém, que a complexidade da sociedade moderna aumentava formas mais coletivas eram adquiridas suprimindo, em certa medida, a tendência individualista. Superado o empreendedor individual de Adam Smith e de “o capital” de Marx, o homem foi integrando-se a um processo produtivo cada vez mais coletivo seja nas empresas, seja na burocracia do Estado. Com a sociologia e o darwinismo biológico emergia de vez o homem social. A sociologia, para ilustrar, “localizou o indivíduo em processos de grupo e nas normas coletivas as quais, argumentava, subjaziam a qualquer contrato entre sujeitos individuais”. (p. 31).
Segue-se a isso que o sujeito, pelas inovações do século XX é completamente descentrado. Desse modo, o autor apresenta uma desconstrução do sujeito centrado na teoria marxista; apresenta as contribuições de Freud que, no tocante ao inconsciente, demonstra o sujeito muito além do “penso, logo existo” cartesiano, terceiro, as contribuições de Saussure que apresenta a linguagem como uma construção fundamentalmente social; quarto Michel Foucault, que em sua “genealogia do sujeito moderno” introduz a idéia de “poder disciplinador” que consiste em regular a vida social e, quinto, o feminismo constituído como movimento social –ao que poderíamos agregar todos os outros movimento sociais liberais. Assim, Stuart Hall concluindo suas proposições conceituais dá conta que; “o sujeito do iluminismo, visto como tendo uma identidade fixa e estável, foi descentrado, resultando nas identidades abertas...” (p. 46).
Superado o individualismo iluminista, Hall introduz a questão da nação como proposição de uma identidade coletiva. Para ele, no mundo moderno, as culturas nacionais constituem uma das principais fontes de identidade cultural; isso porque a condição que circunstância o homem exige que ele identifique a si como membro de uma sociedade e sem esse sentimento de nacionalidade o sujeito sentiria um vazio sendo, portanto, as nacionalidades uma forma distintiva moderna, ou, dito de outra forma, uma forma de identidade. Todavia, a cultura nacional é uma representação –nas palavras de Hall, discurso – na qual a nação é imaginada e narrada, ou, representada e reproduzida.
Nesse ponto poderíamos evocar a “memória coletiva” de Maurice Halbwachs para entender, por exemplo, a ênfase nas origens, mitológicas ,ou não, como forma de produção de uma identidade coletiva. Stuart Hall apresenta que a narrativa da nação apresentada pela mídia e, ou pela cultura popular, apresentam “uma série de estórias, imagens, panoramas, cenários, eventos históricos, símbolos e rituais nacionais que simbolizam ou representam as experiências partilhadas, as perdas, os triunfos e os desastres que dão sentido à nação. (p. 52). Entretanto, esse esforço de unificação da cultura nacional, na produção de uma identidade nacional é submetido à crítica por Hall no sentido de que a cultura nacional comporta estruturas de poder manifesto diversidade social do que conclui ele que, em vez de se pensar a cultura nacional como unificada se deveria pensar no dispositivo discursivo possibilitado por essa cultura nacional a partir do qual se possa perceber a diferença como sinônimo de unificação. Essa consciência da diferença é necessária porque, sobretudo no caso da Europa, as nações modernas são, todas, híbridas culturalmente falando. E porque? Ou como? Através do processo colonial e neo-colonial onde tanto o invasor como o invadido é modificado fazendo da cultura um fenômeno em permanente construção.
Vê-se que a cada passo o trabalho de Stuart Hall vai desconstruindo unidades. A do sujeito, a do coletivo, entendido como homogêneo para por no lugar do igual, a diferença e o conflito que forja um movimento dinâmico e criativo que transforma continuamente a identidade e as histórias dos sujeitos.
Um rápido olhar sobre o processo que tem como fonte a globalização indica que as identidades de grupo vão se perdendo, cedendo espaço para identidades mais genéricas. O exame dessa situação pode é dividido em três aspectos: desintegração das identidades nacionais; identidades nacionais e regionais são reforçadas como oposição à globalização e as identidades nacionais em declínio estão cedendo espaço para novas identidades híbridas. Numa realidade de mundo menor e distâncias mais curtas, as identificações globais se sobrepõem às identidades nacionais. “Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de identidades partilhadas (...) entre pessoas que estão bastante distante no tempo e no espaço” (p. 74). Há uma invasão, através da tecnologia, do mundo globalizado sobre comunidades até então completamente isoladas. A inserção dessas comunidades, através do consumo e até incorporação de hábitos de povos distantes, faz com que cada vez mais “as identidades se – tornem - desvinculadas –desalojadas –de tempos, lugares, histórias e tradições.” (p. 75).
Mas há contra tendências. Primeiro com o impacto do global tem sido recorrente o interesse pelo local, até a globalização procura explorar esse local –no sentido de produzir consumos criando a idéias de nichos de mercado –segundo, a forma desigual como a globalização se espalha pelo mundo, o que implica em parcela ainda não atingida pelos efeitos desse movimento pós-moderno e terceiro, a questão de se saber o que é mais afetada por essa pretensa homogeneização uma vez que a direção do fluxo da globalização e desequilibrada.
Ainda analisando as conseqüências da globalização, o autor reforça que a globalização caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais, a globalização é um processo desigual e a globalização contém alguns aspectos da dominação global ocidental. A idéia de que a globalização produz a necessidade de reforço das identidades locais é acompanhada do surgimento de novas identidades. A inglesidade já havia sido identificada em “identidade e diferença” organizado por Tomaz Tadeu. Sobre as novas identidades, o feminismo é um exemplo, mas o autor apresenta a questão através do exemplo do movimento black não importando, nesse caso, a etnia, cultural, lingüística ou mesmo fisicamente onde, vistos como as mesmas coisas, esses grupos se unem em torno dessa diferença excluída em que são tratados como outros iguais, distante do homogêneo pela característica black que têm.
O autor ainda introduz a idéia de tradução que corresponde a uma situação em que a dispersão de povos para além dos limites geográficos de sua localização, como no caso da diáspora, produz uma intersecção entre culturas onde o migrante é obrigado a negociar com a nova cultura onde não assimilam a nova totalmente nem são completamente assimiladas. A sua unificação fica impossibilitada porque estas passam a constituir produtos de várias histórias e culturas interconectadas. Nesse sentido tradução, no seu sentido etmológico que remete à idéia de transferência, ou seja, a cultura é traduzida para adaptar-se à nova realidade. Trata-se da própria capacidade dialógica do grupo social no contexto da globalização em que as fronteiras são menos rígidas.
Tratando do fundamentalismo, diáspora e hibridismo, já no final do texto, o autor utiliza a referência à obra de Salman Rushdie, versos satânicos, que pela posição dos que lhe foram contrário expõe as três situações simultaneamente: a questão da diáspora –pelas migrações e misturas –o hibridismo conseqüente da mistura de povos e, por fim, o fundamentalismo –na minha interpretação –exposto na posição daqueles que lhe decretam a morte. As idéias de pureza racial acompanhadas de ortodoxia religiosa constituem o pano de fundo do fundamentalismo na área cultural a que aludimos. Esse revival étnico corresponde a uma resposta frente à tendência de globalização. É a reação de alguns grupos à essa tendência de infiltração de novos hábitos numa realidade conservadora.
O autor conclui que a globalização não apresenta o triunfo esperado, mas com a permanente sombra da usa presença, tão pouco se pode dizer, que haja progresso no retorno ao “local” como tem sido intenção de alguns grupos, de modo especial os fundamentalistas. Os deslocamentos, ou os desvios da globalização demonstram variados e contraditórios, o que sugere que esse movimento pode significar um lento, mas persistente movimento de descentramento do Ocidente.
Conclusão
Depreendi da leitura que o debate em torno da crise da identidade pode ser estéril uma vez que a questão não é tanto de crise, mas de se saber sobre seu centramento e descentramento. O sujeito pós-moderno, nesse sentido representa um ser cuja identidade configura-se num quadro dinâmico de diálogos pluralistas e numa relação cultural mediada do que resulta uma identidade mas aberta para o exterior. O indivíduo iluminista não perde sua razão de ser, mas sua existência passa a ser circunstanciada por outras presenças e outras culturas com a qual negocia alterando-se e produzindo alteração.
De todo o processo de mudança, de um sujeito-da-razão para um sujeito coletivo conta contribuições intelectuais como a psicanálise de Freud, as contribuições da linguagem de Saussure e a questão da disciplina apresentada por Foucalt como mecanismo de controle social. Todo esse processo pode ser melhor entendido com o movimento pós-moderno conhecido como globalização onde o encurtamento de distancias e de tempos rompe fronteiras faz interagir grupos sociais que híbridos se alteram e produzem alteração. Ao mesmo tempo notou-se uma resistência ao movimento da globalização notado por uma valorização da identidade local e também manifesta em práticas fundamentalistas onde se operou a ortodoxia religiosa e pureza racial. Nesse transito de pessoas, culturas e identidades o autor aponta, finalmente, para um certo descentramento do Ocidente como centro de poder de representar.
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