A edição da Caros Amigos, de
maio, traz uma interessante matéria de Tatiana Merlino, entitulada “Vale, a
mineradora com as mãos sujas de sangue”. A reportagem vai a fundo e traz à tona
diversas denúncias contra a empresa, procurando escancarar o desrespeito à
sociedade, que não tem acontecido só no Brasil.
Na condição de transnacional, ela atua
em diversos lugares do mundo, e costuma causar transtorno às populações locais,
como conta a repórter. No Peru, manifestantes que praticavam ações “anti-mineradoras”
foram agredidos fisicamente e, como não adiantou, foram intimidados
posteriormente com armas de fogo. Em Moçambique, famílias de uma comunidade
tiveram que ser deslocadas de seu local original para uma área de pior
qualidade para a prática da agricultura e para casas de mais baixa qualidade,
para que a empresa pudesse realizar a exploração de minérios naquele local. Em
Nova Caledônia, na Oceania, a instalação de dutos marinhos causou diversos
problemas ambientais à maior barreira de corais do mundo, que circunda o país.
Para tentar explicar esse papel que a
Vale assume hoje mundialmente, é entrevistada a economista Sandra Quintela. Ela
diz que “a internacionalização da Vale faz parte de uma política do governo
federal de transnacionalizar as empresas brasileiras, com o objetivo de inserir
o país no capitalismo mundial.” A matéria ainda lembra que, de certa forma,
essas violações são financiadas com dinheiro público: em 2008 o BNDES liberou
para a Vale o maior empréstimo concedido a uma única empresa até então, de R$
7,3 bilhões. A professora da UFF, Virgínia Fontes, caracteriza o poder da Vale,
a maior mineradora do mundo, como uma forma contemporânea de um “imperialismo
brasileiro”.
O trabalho jornalístico é muito bom.
Tatiana Merlino vai até a fonte dos problemas e encontra personagens que estão
sofrendo, literalmente na pele, os abusos da empresa. É o caso do Seu Edevard,
morador de Açailândia, no Maranhão, onde a siderúrgica libera grandes
quantidades de pó de minério, sendo que nas fábricas não existem filtros
antipartículas. Ele relata o aumento no número de problemas de saúde, e conta
que os resíduos “caem dentro do rio e no quintal da gente, em cima das casas, em
cima de tudo”.
A matéria é boa porque presta um serviço
à sociedade: escancara o desrespeito e mostra as contradições de uma corporação
que se diz socioambientalmente responsável. É o que sintetiza o desabafo de
Felipe Venâncio Pedro, ex-funcionário da Vale. Ele diz que a imagem verde e
amarelo que a empresa vende é “a maior palhaçada [porque] todo mundo sabe que o
minério da Vale é manchado de sangue”.
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