O Brasil superou as metas na educação propostas pelo Ministério da Educação (MEC) para serem alcançadas em 2011 nos dois ciclos do ensino fundamental (de 1º ao 5º ano e do 6º ao 9º ano), mas apenas igualou a meta projetada para o ensino médio, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado nesta terça-feira, 14. Isso é o que foi divulgado na grande imprensa. Mas, quem vive o cotiano escolar tem conhecimento de duas verdades opostas aos dados: ha um interesse na maquiagem dos dados e, efetivamente, nossos alunos não sabem ler, não sabem as operações básicas e também não sabem escrever. Um terceiro dado, ainda mais preocupante, a escola não sabe como lidar com essa situação.
Há mais de dez anos vivo a rotina das escolas de educação básica. Já disse outro dia que a conclusão fundamental a que cheguei é que a responsabilidade, pelos descaminhos, é do professor e da professora. Fui questionado por alguns colegas. Mas hoje, como professor de um curso de licenciatura, faço a reflexão de que o problema, se houver solução, estará esta solução na base, ou seja, na formação do professor. Claro que, acrescida a uma boa formação é sempre necessário considerar a responsabilidade, o compromisso ético-docente do professor.
Não faço o discurso da questão salarial e das condições de trabalho porque esse discurso já está amarrotado. E a solução passa por aí, mas essa não é a solução. Uma coisa é a questão salarial, briga necessária; outra é o resultado do meu trabalho.
Precisamos de professores e professoras que sejam professores e professoras. É necessário a incorporação de um sentimento de profissionalismo à categoria. Existe muita docilidade, muita pessoalidade, muito compreensismo na educação. As coisas não são objetivas. Os educadores perdem a sua profissionalização em função de um apelo barato que os submetem a outras demandas que não são as suas e passam, por isso, a desempenharem papéis que não são os seus.
Isso sem falar nos irresponsáveis, que, por apadrinhamento político ou incompetência dos gestores, recebem o salário religiosamente, mas raramente aparecem na escola. Tive um colega professor, com quase 20 anos de escola, que além de não participar de qualquer reunião, ia nas aulas quando queria e geralmente no início do 4 bimestre ele já entregava os resultados com todos os alunos aprovados. O tal professor chegou, em 2007, ao absurdo de dar como aprovado, com notas boas em todos os bimestres, um aluno que havia falecido no meio do ano. Esse tipo de praga mata quase todas as esperanças de mudança. E infelizmente é uma praga muito comum.
Isso sem falar nos irresponsáveis, que, por apadrinhamento político ou incompetência dos gestores, recebem o salário religiosamente, mas raramente aparecem na escola. Tive um colega professor, com quase 20 anos de escola, que além de não participar de qualquer reunião, ia nas aulas quando queria e geralmente no início do 4 bimestre ele já entregava os resultados com todos os alunos aprovados. O tal professor chegou, em 2007, ao absurdo de dar como aprovado, com notas boas em todos os bimestres, um aluno que havia falecido no meio do ano. Esse tipo de praga mata quase todas as esperanças de mudança. E infelizmente é uma praga muito comum.
Penso que a transformação qualitativa da educação brasileira passa por uma mudança de perspectiva do papel do educador. A transformação passa por uma nova consciência de professores e professoras sobre a natureza do seu ofício. O professor não está na escola, como pensam muitos, para substituir pais ausentes ou psicólogos que a família não pode pagar. Se o adolescente tem um problema deve ser encaminhado ao Conselho Tutelar para este tome as medidas cabíveis, e não estou falando de delinquência não, estou falando das várias situações de intervenção deste órgão tal qual prescreve a Lei. Não cabe ao professor ocupar o lugar de outros agentes do Estado.
Digo isso não sem razão. Parece bobagem, mas não é. A legislação brasileira, inclusive a educacional é quase perfeita. Todavia, muitos educadores deixam de cumprirem o seu papel docente, para desempenharem funções que, legalmente, não lhes competem. Por exemplo, o ECA prescreve que, constatada a ausência sistemática do aluno, a escola deve acionar o Conselho Tutelar de modo assegurar-lhe o direito à frequência, que é responsabilidade do Estado e da Família. Esse procedimento, tão simples, nunca vi ser feito numa escola. Mas já vi muitos colegas "aliviarem" na forma de avaliar o aluno porque este faltou muito, inventou qualquer explicação, o fato não foi comunicado ao Conselho e, no final de tudo, a secretaria da escola quer a entrega das notas dentro do prazo.
É claro que poderia aqui discutir a questão exaustivamente. Mas, por enquanto, me ocupo do que é básico. Briga por salário e condições de trabalho se faz na escola e fora dela e, para o bom professor isso não é uma escolha, é uma obrigação moral. Mas, da mesma forma, a qualidade do serviço prestado é uma exigência profissional que deve ser exigida enquanto tal.
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