Por Josué Vidal
Pereira[1]
Não é necessário ser de um arguto
observador para perceber que o Estado de Goiás vem se tornando laboratório de
políticas educacionais, que a despeito do discurso em contrário vem promovendo
o aumento da precarização da educação pública, via de regra destinada aos
filhos dos trabalhadores.
No conjunto das nefastas iniciativas governamentais
destacam-se três ações, que na contramão das tendências verificadas em outros
Estados, apontam para o aprofundamento das diferenças entre a educação pública
e aquela destinada aos grupos mais abastados da sociedade, quais sejam: a destruição do plano de carreira dos professores da Rede Estadual de Educação em
2011 (não bastasse os péssimos salários pagos aos docentes – um dos piores do
país), por meio da qual o governo deixou de reconhecer a titularidade dos
professores, sobretudo os adicionais para Mestres e Doutores, desestimulando a
formação continuada do quadro docente e favorecendo a debandada dos melhores
quadros da educação estadual; a ampliação da militarização das escolas
públicas, sob o argumento de que com mais disciplina os alunos tendem a
melhorar o rendimento, o que só evidencia o fracasso das políticas sociais e de
segurança do Estado como também o autoritarismo de quem acha que tudo se
resolve por meio da força, que por sua vez implica numa formação
moral e intelectual questionável do ponto de vista de uma sociedade que se
vislumbre efetivamente democrática.
Entretanto, o mais tenebroso dos projetos
do governo para a educação goiana está agora em pleno trabalho de parto, qual
seja o processo de terceirização das escolas públicas, com projeto piloto para
uma cidade do Entorno do Distrito Federal.
A ideia é entregar as escolas para
Organizações Sociais, ou seja, entidades privadas, que passarão a gerir as
escolas dentro das mesmas lógicas de qualquer empresa, sobretudo no que se
refere ao lucro, sepultando de vez a contratação por concurso dos professores
da Rede Estadual.
O JBS (Friboi) ganha 1 bilhão em isenção, a UEG continua com infraestrutura de escola rural |
Ora vejamos, a recém sancionada lei do
Plano Nacional de Educação (2014-2024), elaborada a partir de Conferências
Municipais, Intermunicipais, Estaduais (incluindo Goiás) e Federal, reconhece o
papel fundamental da educação pública para o desenvolvimento de uma sociedade
verdadeiramente democrática e indica a necessidade do seu fortalecimento
mediante, dentre outros, por melhores condições de infraestrutura das escolas,
de políticas de assistência estudantil, de formação continuada e planos de
carreira e salários decentes para os trabalhadores em educação, também
considerados fundamentais para uma educação pública de qualidade.
Talvez o leitor possa
estar se perguntando, mas como isso tudo poderia fazer sentido, uma vez que o
Goiás ficou em primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) divulgado em 2014? Bem, nesse caso para ter uma noção da farsa do IDEB,
basta procurar uma Escola Estadual e conversar discretamente com alguns
professores e servidores administrativos.
Impressiona a capacidade de
dissimulação do governo de Goiás em implementar políticas públicas
conservadoras e autoritárias ao mesmo tempo em que as propagam como
propostas avançadas, como o que há de mais moderno no país. É como se o Estado
estivesse querendo mostrar para o Brasil tudo o que não se deve fazer com a
coisa pública, sobretudo em matéria de educação.
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