quarta-feira, 8 de abril de 2015

QUANDO O ASSUNTO É DEUS




Quando o assunto é Deus, acreditam que só posso falar bobagens. Nesse sentido, esse é um texto difícil de ser escrito. Primeiro, porque a maioria dos que me conhecem, inclusive minha família, dão como certo que sou ateu e, como tal, só poderia escrever coisas às quais precisam suplicar a Deus que me perdoe. É difícil escrever porque para alguns colegas de ofício, qualquer sinal de crise implica mediocridade intelectual. Mas, ultimamente tenho sentido necessidade de dizer que não sou ateu. E não sou ateu porque, embora goste muito de Nietzsche e de Sartre, e até, em momentos de desesperança, tenha ironizado a ação divina, nunca fui ateu.

Reconheço, a julgar o que a cultura ocidental entende como experiência espiritual, que vivo distante de Deus. Aliás, nego a divindade egoísta, ciumenta e raivosa que a nossa bíblia, sobretudo no chamado antigo testamento, apresenta. Mas, entre não encontrar-se nesses esquemas e ser ateu, há uma distância.

Alguns temas do cristianismo me inquietam. Por exemplo, fico indignado com a possibilidade do milagre, que Pascal reconhecia como prova de Deus, quando boas pessoas ficam à míngua dessas soluções. Mas, mesmo nesse caso, algumas circunstâncias da minha vida, pelo encaminhamento que tiveram, só podem ser entendidas na perspectiva do milagre. E houveram vários.  

O grande problema, desculpem os leitores se lhes confesso essa intimidade, é da referência. No Ocidente temos um modelo de espiritualidade baseada na mediação. As religiões, portanto, têm um conjunto de símbolos, sujeitos e práticas que constituem essa mediação. Nesse contexto, acreditar em Deus é ter religião. E é aí que reside a minha crise, não consigo ter religião.

Não se trata de maniqueísmo. O fato é que não consigo me emocionar com os apelos pentecostais. Em minha vida emoção e humor são coisas caras. A igreja católica, com um clero cada vez mais mal formado, e cada vez mais parasita, é outro desafio. Não consigo digerir a contradição de uma elite religiosa sugando os mais pobres.

Mas, vez ou outra reconheço a miséria de ser o que sou. Como diria Sartre, um ser que não escolheu, mas foi lançado ao mundo, e no mundo precisa fazer escolhas. Nem sempre essas escolhas são boas. Às vezes a miséria é do tamanho da nossa existência. Vivemos cada dia nos movendo sob o entulho dessa existência. Viver, assim, constitui-se num drama pantanoso. E quando a angústia anuvia nossa pulsação a necessidade de uma experiência espiritual alentadora torna premente o conforto interior.

Acreditei por muito tempo que uma vida conscienciosa bastava para se viver em paz. No entanto, essa experiência dizia respeito à justeza ética e moral de um viver em acordo com regras que eram sociais. Chegou o momento, no entanto, em que se impunha determinada experiência que não podia ser reprovável do ponto de vista destes valores, mas mesmo assim suscitava inquietações. Conclui que não bastava o eu moral.

Cada vez mais tem me inquietado as piadas sobre experiências religiosas, sobre os sujeitos da religião. Me parecem despropositadas. Tenho caminhado no sentido de visualizar a possibilidade de uma experiência espiritual que, podendo ser coletiva, não esteja tão arraigada de valores que não são espirituais, como tem sido na relação entre as igrejas e o capital.

Um comentário:

  1. Para mim, a igreja e a religião e algo que o homem criou simplesmente para tentar manter a sociedade sob controle, para tentam nos fazer engolir fatos que para a igreja são verdades absolutas simplesmente porque esta escrito na biblia. Porém, a biblia nada mais e que um documento que foi escrito por um rélis mortal, ja fui taxado de ateu varias vezes, porém não sou, simplesmente prefiro não seguir cristão hipócritas que se valem da fé de muitos para obter lucro, como acreditar em uma igreja ou religião que usa o nome de DEUS, para explorar e retirar dinheiro de pais de familias que se desdobram para conseguir sustentar sua familia?. Agora se ser contra este ato repulsivo da igreja e ser ateu, ai sim posso dizer com todas as palavras que sou ateu.
    Por fim, não sei se foi Deus quem criou o homem, ou o homem quem criou Deus como indaga Nietzsche, porém, a religião e a igreja foi sem duvida, uma invenção do homem.

    Comentado por: Josiel Felpe

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