A educação pública no Estado do Pará enfrenta uma grave crise. Não se trata, no entanto, de uma crise decorrente de uma política equivocada do governo atual ou do anterior. Penso essa crise num sentido político, mas que, no entanto, tem raízes para além da administração "a" ou "b". Nesse sentido, mais que identificar culpados, penso numa nova política sobre educação como possibilidade de superação da crise, a longo prazo, é claro. E se o caso não é de nos ocupar procurando culpados, mas de concentrar energia na busca de soluções aos problemas desvelados a cada nova avaliação da educação pública estadual do Pará, então, a proposição de um processo de formação continuada, tal como propôs e tem levado à cabo a 4a. URE, Marabá, é um bom exemplo de nova política para a educação pública do nosso Estado.
Somos professores. Cada professor tem uma formação que o habilita a exercer o magistério em uma determinada área do conhecimento. Esse é o nosso primeiro desafio. A contigência do tempo, dos nossos muitos afazeres e da nossa preocupação com aquilo que, aparentemente, deve ser a nossa responsabilidade maior, a minha disciplina específica, produz o primeiro desafio à qualidade do ensino que ministramos, o isolamento. Mas esse não é o único obstáculo. Além da docência que tende a fragmentar a compreensão do todo, por essa singularização do nosso fazer, ainda há o paradoxo representado pelo próprio currículo oficial.
No caso do currículo, a intenção dos planejadores educacionais é criar uma base comum, de modo que existam determinados conteúdos de ensino cuja apreensão seja oportunizada a todos os alunos do país. Complementarmente os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam a inclusão de temas que envolvem o cotidiano do aluno, os temas transversais, como são chamados, e uma parte diversificada que, além desses temas, oportunizem aprendizagens sobre conteúdos ligados ao contexto de vida do aluno, a história local, por exemplo. O problema é que o tempo de estudo é insuficiente para trabalhar os conteúdos básicos, a base comum. Se é insuficiente para o que é "obrigatório", como introduzir a essa parte obrigatória a diversificada?
Essas são questões que atravessam o cotidiano docente. Esse é um debate importante. Mas não é apenas o debate sobre tais questões. Existem uma série de perspectivas possíveis a partir da formação continuada. Como me disse uma das pessoas responsáveis pela formação, "não se trata de oficinas sobre como fazer", mas de estudo sobre o que pode ser feito. Não é necessário, por exemplo, que se ensine um professor a trabalhar de forma interdisciplinar, mas é importante discutir com ele sobre a importância, e os possíveis resultados da adoção dessa prática. Saber fazer pressupõe que a formação do professor o tenha ensinado, o que se tem procurado, de forma complementar a essa formação é, no contexto da educação pública paraense, discutir o que é mais pertinente à nossa realidade.
Realmente é importante dizer que o Estado, através de quem o representa na 4a. Unidade Regional de Ensino de Marabá, acertou quando procurou fomentar essa proposta política no sentido de apresentar alternativas à problemática do ensino público estadual na nossa região.
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