Rogério Cerqueira Leite, em seu BLOG
Um deles consiste em buscar
exemplos semelhantes paralelos de problemas já resolvidos e usar suas soluções
como primeira aproximação. Pois bem, a história tem muitos exemplos de
justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública.
Dentre os exemplos se destaca
o dominicano Girolamo Savonarola, representante tardio do puritanismo medieval.
É notável o fato de que Savonarola e Leonardo da Vinci tenham nascido no mesmo
ano. Morria a Idade Média estrebuchando e nascia fulgurante o Renascimento.
Educado por seu avô,
empedernido moralista, o jovem Savonarola agiganta-se contra a corrupção da
aristocracia e da igreja. Para ele ter existido era absolutamente necessário o
campo fértil da corrupção que permeou o início do Renascimento.
Imaginem só como Moro seria
terrivelmente infeliz se não existisse corrupção para ser combatida. Todavia
existe uma diferença essencial, apesar das muitas conformidades, entre o
fanático dominicano e o juiz do Paraná -não há indícios de parcialidade nos registros
históricos da exuberante vida de Savonarola, como aliás aponta o jovem
Maquiavel, o mais fecundo pensador do Renascimento italiano.
É preciso, portanto, adicionar
um outro componente à constituição da personalidade de Moro -o sentimento
aristocrático, isto é, a sensação, inconsciente por vezes, de que se é superior
ao resto da humanidade e de que lhe é destinado um lugar de dominância sobre os
demais, o que poderíamos chamar de "síndrome do escolhido".
Essa convicção tem como
consequência inexorável o postulado de que o plebeu que chega a status sociais
elevados é um usurpador. Lula é um usurpador e, portanto, precisa ser caçado. O
PT no poder está usurpando o legítimo poder da aristocracia, ou melhor, do
PSDB.
A corrupção é quase que apenas
um pretexto. Moro não percebe, em seu esquema fanático, que a sua justiça não é
muito mais que intolerância moralista. E que por isso mesmo não tem como
sobreviver, pois seus apoiadores do DEM e do PSDB não o tolerarão após a
neutralização da ameaça que representa o PT.
Savonarola, após ter abalado o
poder dos Médici em Florença, é atraído ardilosamente a Roma pelo papa
Alexandre 6º, o Borgia, corrupto e libertino, que se beneficiara com o
enfraquecimento da ameaçadora Florença.
Em Roma, Savonarola foi
queimado. Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai
vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes.
Ou seja, enquanto você e seus
promotores forem úteis para a elite política brasileira, seja ela legitimamente
aristocrática ou não.
ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA
LEITE *, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional
de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha*
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