quinta-feira, 31 de agosto de 2017

FILME OPERAÇÃO LAVA JATO - A LEI É PARA O PT

Estreou, com grande cobertura da imprensa brasileira, o filme operação lava jato, a lei é para todos. Na plateia, com direito a tapete vermelho, estava Sérgio Moro, o grande herói aecista; dizem, aliás, que o tapete havia sido pensado para que Moro e Aécio Neves entrassem de mãos dadas.

A Lei é para todos!? Piada! Pra começo de conversa a PF é a polícia branca para a elite criminosa desse país.

À exemplo de Lula, filho do Brasil, nesse caso sem cobertura, a produção cinematográfica dos federais brasileiros é apenas expressão de um cinema medíocre que se esforça por retratar instituições e personagens de uma nação que faliu moral, ética e socialmente.

O grande questionamento que faço é sobre o nível mental dos produtores e diretores brasileiros. São tão incapazes assim? Pobre cinema.

sábado, 5 de agosto de 2017

O DESPREZO PELOS LIVROS: BREVE REFLEXÃO SOBRE O USO DO LIVRO DIDÁTICO.

Centenas de livros didáticos amontoados num canto da escola

Enquanto centenas de livros, alguns ainda no plástico perdem seu ciclo de uso (2015-2017), alunos ficam sem livros.

O fim de um ciclo (2015-2017), a quem servirão estes livros?
No final da adolescência li uma crônica sobre um homem que, tendo conhecimento de uma obra literária – não recordo mais o detalhe sobre como a conheceu – passou a desejá-la em sua estante a qualquer custo. Impressionou-me o desfecho da narrativa vez que, depois de provocar um incêndio apenas para roubar o livro, o personagem apenas contempla a obra em sua estante sem qualquer indicação de que a leria de fato. Acredito tratar da obra a paixão pelos livros (SILVEIRA e RIBAS, 2004), mas também não tenho certeza. Certeza é que houve um tempo em que o livro, às vezes em si mesmo, além de paixão inspirava grandeza ao limite da soberba.

Mas, aquela leitura fez perceber, com mais clareza, como livros constituem expressão de um poder simbólico e, por isso, impõem certo respeito àqueles que os detêm. Desde os gregos, e especialmente com Aristóteles, os homens das letras gozavam de uma distinção quando comparados aos mortais comuns.

Mas o século XX, sobretudo no que antecedeu, durou e sucedeu às duas guerras mundiais, impôs a força, e a violência dela decorrente, como fenômeno preferencial na orientação das ações humanas. Essa situação, como bem o demonstra Hannah Arendt, em pelo menos três trabalhos (1989; 1991 e 1999), não só sobrepôs a violência ao saber, como condicionou o saber às contingências da brutalização social. Considerando a realidade brasileira e o cenário internacional a impressão é que nesse início de século XXI a coisa apenas pirou. Avançamos da força para o caos absoluto – de qualquer modo, um tempo de desprezo a qualquer forma de sabedoria.

Nesse nosso tempo não se pode dizer que exista forma mais segura de garantir a acefalia social do que retirar, na escola e através da escola, as condições de acesso ao saber àqueles que dependem dessa instituição para, por exemplo, poder conhecer um livro.

A escola tem sido o elemento fundamental do processo de desumanização. A escola, à medida que deixa de oportunizar libertação da violência, brutaliza e reproduz a barbárie cujos caos político e social são reflexos.

Como se poderia definir, senão como prática violenta, a forma como lida com livros didáticos – direitos dos alunos e alunas e amontoados às centenas no Escola Gaspar Viana – a rede pública estadual de Marabá? Essa violência equivale ao caso de remédios vencidos e descartados em hospitais públicos – e se vencidos precisam ser descartados –enquanto pessoas morrem por falta destes mesmos remédios.

De um lado, centenas de livros, que deveriam ter sido distribuídos em 2015, jazem feridos pela inoperância pedagógica que impede, do outro lado, outras centenas de jovens e adolescentes de terem acesso ao livro didático – adquirido com dinheiro público exatamente para atender a necessidade destes jovens e adolescentes.

Estive na escola para tentar conseguir pelo menos 10 livros de história do 1º ano do Ensino Médio para alunos da Vila Oziel, onde funcionam turmas de alunos desassistidos de tudo e de todos. Me disseram que deveria encaminhar um requerimento à 4ª Diretoria Regional de Ensino, 4ª URE. A indignação calou minha voz. Impressiona como a incompetência e a irresponsabilidade é competente para se escudar na burocracia e, por essa estratégia, parecer responsável!

O desprezo pelo livro supõe fracasso do processo de formação para a leitura da palavra e, em consequência, incerteza sobre a formação para a consciência e participação na transformação desse mundo, de barbárie, em alguma coisa melhor.   

Bibliografia

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
____. Homens em Tempos Sombrios. Trad. Ana Luisa Faria. Lisboa: Ed. Relógio d'Água, 1991.
____. Sobre a Violência. Trad. André Duarte. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.

SILVEIRA, Julio e RIBAS, Martha (Orgs.). A paixão pelos livros. SILVEIRA, Julio (trad.). Rio de Janeiro: Casa da Palavra: 2004.

domingo, 16 de julho de 2017

SÉRGIO MORO, O JUIZECO

Segundo a lógica do ex presidente do senado, Renan Calheiros, Sérgio Moro é um juízeco. De fato, a expressão diminutiva constitui recurso de linguagem que alude o exercício pouco honroso de um magistério que deveria ser nobre e, considerando esse aspecto, o senador pode ter razão. Do meu ponto de vista, trata-se de um infeliz cuja vaidade soçobra os anseios aqueles que, embora sejam audiência, não podem editar o noticiável no Jornal Nacional.

O Sérgio Moro, além do ódio por políticos do Partido dos Trabalhadores deixou-se seguir como fantoche dos homens de nariz grande, grupo ao qual ele próprio, dizem, é ligado. 

Moro tornou factível os dois pesos e duas medidas da nossa justiça. Observe o leitor que, se compararmos a aparência abatida de Sérgio Cabral com o aspecto robusto e arrogante de Eduardo Cunha não se poderá concluir que a vida na cadeia seja a mesma para os dois.

Embora juiz de primeira instância, o poder que lhe tem conferido a imprensa e os bandidos que estão no poder contradizem a justa relação entre a expressão juizeco o exercício da magistratura de Moro. Ele não é um juizeco, é um agente político de um grupo canalha mesmo. É o juiz que absolve a mulher de Cunha, com provas, e condena Lula, por convicção. 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

OS ASSASSINOS ESTÃO SOLTOS E OS SOBREVIVENTES CORREM RISCO DE MORTE: A CHACINA DE PAU D'ARCO

O medo agora é pela vida dos que sobreviveram.
É muito grave a situação dos sobreviventes da Chacina da Fazenda Santa Lúcia. Já é de conhecimento público que a Polícia do Estado do Pará removeu os corpos, o que impediu a perícia no local da chacina e, por isso, comprometeu seriamente o processo de apuração dos eventos ocorridos na Fazenda do Sul do Pará. Mas, existem sobreviventes. E isso leva a uma outra questão, diante de uma polícia assassina, que não quer pagar por seus crimes, estão seguros os sobreviventes, que contradizem a versão do confronto? Não estão. 

O que o Estado do Pará está fazendo para proteger os sobreviventes, considerando que os policiais estão soltos, nada. E isso é muito grave.

A perícia realizada em Marabá indicou que, pelo menos três dos corpos periciados naquele instituto foram alvejados nas costas e na cabeça, o que contraria a versão de confronto. Algumas testemunhas relatam que os trabalhadores foram cercados pela polícia e, juntando essas informações aos disparos vai se desenhando um quadro em que, de um lado um grupo chega fortemente armado com intenção de matar, e do outro, pode ter havido uma tentativa de fuga ao cerco.

A sociedade precisa saber e se mobilizar para cobrar providências.

Enquanto tudo isso acontece o cadáver insepulto coloca o exército para sitiar Brasília sob o argumento de proteger vidraças. Não é desse governo que podemos esperar alguma coisa. Não é de nenhum governo. Precisamos, enquanto sociedade, pacífica e corajosamente, fazer o enfrentamento e negar esses assassinos.



A maior vingança é a resistência.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

NÃO FOI CONFRONTO, FOI MASSACRE - POLÍCIA DO PARÁ ASSASSINA 10 TRABALHADORES NO SUL DO ESTADO



Trabalhadores assassinados pela polícia.

A polícia do Estado do Pará matou 9 homens e 1 mulher trabalhadores rurais no Sul do Estado do Pará. Na região, as pessoas acreditam que o número de mortos é maior.


Segundo a Comissão Pastoral da Terra, os trabalhadores estavam em posses reivindicadas pela fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d’Arco, Sul do Estado do Pará.



Tornado o caso público, as autoridades têm se esforçado para criminalizar as vítimas. 

Para a consecução desse objetivo, a operação, que inicialmente era de reintegração, agora é apresentada na imprensa como operação para cumprir mandado de busca e prisão.  

No Pará os bandidos mais violentos temem o Tático, força militar especial do Estado. Diz-se, popularmente, que com o Tatico não tem conversa, tem caixão. Além da fama desse grupo, há a convicção, já generalizada, que a polícia paraense tem predisposição à violência com os trabalhadores do campo. Todos temem, principalmente a polícia militar.

A essa polícia, temida por bandidos perigosos, querem fazer acreditar, agentes de segurança e meios de comunicação, que trabalhadores comuns fizeram frente. Quem em sã consciência trocaria tiros com uma polícia temida e fortemente armada? 

As primeiras notícias sobre o episódio davam conta de que teria ocorrido um confronto entre policiais e trabalhadores numa operação de reintegração de posse. No entanto, ao mesmo tempo em que os agentes do Estado tentam dar inteligibilidade a construção dessa ficção, vão aparecendo elementos que a desmontam. Segundo o delegado João Bosco, diretor de Polícia do Interior do Estado, no local, com os trabalhadores, foram apreendidas onze armas de grosso calibre, incluindo um fuzil 762 e uma pistola Glock modelo G25. Além do mais, a polícia pretendia cumprir mandados de segurança contra alguns trabalhadores que teriam assassinado um segurança da fazenda.


O absurdo dessa declaração só não é maior que a pretensão do agente público que considera a sociedade acéfala. Quem conhece a questão agrária sabe que o movimento dos trabalhadores nunca foi um grupo armado. Não é incomum haver apreensão de espingardas, geralmente utilizada em atividades de caça pelos trabalhadores. Mas, nesse caso, o delegado procura construir a ideia de um bando armado, faltou apenas apresentar granadas e outros artefatos de guerrilha ou de assalta a bancos. 

Ficção.

Não está explicado a natureza da operação. Era reintegração de posse? Tratava-se de cumprir mandados de prisão? O discurso muda conforme a conveniência.

Não se pode supor, nesse circo de horrores, que seja séria essa história de que se pretendeu expulsar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, prender alguns. Em se considerando que isso seja verdade, seria forçoso admitir que quem deu a ordem pretendeu criar um clima de tensão. E se tudo isso for verdade, é preciso questionar com que objetivo. Vingar o segurança?

Quem estuda a questão agrária no Brasil sabe que segurança é, e sempre foi, sinônimo de pistolagem no campo. A diferença é que, até pouco tempo, embora tenham ocorrido local de contratação de pistoleiros com endereço fixo, como o café central em Goiânia na década de 1980, hoje a estrutura é oficiosa ao ponto de constituir CNPJ.

A polícia matou porque foi pra matar. A polícia matou porque há, no Brasil, um ambiente de coisificação do trabalhador. A polícia matou porque no Pará os governos tucanos têm matado. A polícia matou porque há uma conjuntura que mata e continuará matando.

Mataram. Mas, jamais vamos aceitar o discurso acéfalo do confronto.

domingo, 14 de maio de 2017

LUCIANO HUCK E AS ELEIÇÕES DE 2018


Huck e a convicção da elite branca de estar acima da Lei.
Depois que a sociedade norte americana elegeu Donald Trump, um candidato que era piada nos primeiros dias de pleito, foi possível perceber uma derrocada global daquilo que se poderia chamar de racionalidade democrática. No Brasil, oscilamos entre um racista nojento, que faz apologia ao estupro e o amigo do Aécio Neves, garoto propaganda do movimento golpista dos “camisas da CBF”. Num e noutro caso, o abismo alimentado por um ódio de classe que se manifesta num discurso fascistas que, a cada dia, ganha mais espaço numa sociedade cuja característica fundamental é a baixa escolaridade e, por consequência, limitada capacidade de análise e decisão autônomas.


Pois sim, Luciano Huck já é um candidato para o pleito de 2018. Presidente? Não é possível que, por aqui, a loucura se chegue a tanto. Mas não resta dúvida que numa sociedade de “bestializados” que encontram suas razões do dia-a-dia naquilo que lhes oferece os veículos da Fundação Roberto Marinho, ter Huck como apoio não deixa de ser importante.


É bom lembrar, num país que vive repetindo que Lula e Dilma são cidadãos comuns, que Luciano Huck e sua esposa Angélica, depois de um pouso forçado de seu jatinho, mesmo sem apresentarem qualquer necessidade de cuidados emergenciais, tiveram atendimento privilegiado na Santa Casa de Campo Grande, e por isso, deixaram pacientes do SUS sem leito.


Huck é a encarnação prática da psicologia das elites brasileiras, de que estando acima do povo comum, não precisam respeitar as leis que, na verdade são feitas para os comuns cumprirem. Nas eleições de 2014 houve uma expressão disso. Naquela ocasião, 05 de outubro de 2014, o cabo eleitoral de Aécio pôs o filho Joaquim, de 9 anos para votar, fato que já tinha se repetido nas eleições municipais de 2012.


Não há nada de novo...
À crítica a quem considere exagero. Mas a questão não é o voto, mas o pouco caso que se faz às leis. A questão é sempre o privilégio de classe, aliás, o privilégio de classe é o cabo de guerra que dividiu o Brasil atual, e que bom que dividiu, poderia ser pior, poderia ter ocorrido um consenso a respeito do projeto, em andamento, de esmagamento dos direitos históricos conseguidos pelos pobres.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

OPERAÇÃO CÍVICA: O CIRCO DE SÉRGIO MORO

Do que riem Moro e Aécio, do povo?
Uma das coisas mais evidentes na Operação Lava Jato é a espetacularização das prisões, conduções e demais eventos ligados à operação, inclusive na apresentação da denúncia contra o ex-presidente Lula. Mas nada, até aqui, se compara à chamada Operação Cívica, o circo montado para o depoimento de Lula em Curitiba que, entre outras coisas, conta com mais de 2 mil policiais.

Sim, o Paraná não é mais um lugar perigoso. A sociedade paranaense pode dispor de 2 mil homens da polícia militar e das demais forças, boa parte ganhando diária extra, para simplesmente fazer firula às câmaras em frente ao prédio da Justiça Federal.

Moro realmente gosta de espetáculo.  
 
Agora que aparece nas consultas de opinião sobre as eleições de 2018 quem sabe não prende o Lula, que está à sua frente na preferência do povo brasileiro?

terça-feira, 9 de maio de 2017

SÉRGIO MORO E AS ASPIRAÇÕES DAS ELITES

O golpe foi dado e o trabalhador, bem como os pobres de um modo geral, estão pagando a conta. Tratou-se, como se sabe agora com mais clareza, de um acordo tácito que ia do STF ao Senado, da Globo à FIESP. Mas falta ainda a esse projeto de retomada do passado, aquele passado de pobre cada vez mais pobre e rico cada vez mais rico, a eliminação de qualquer possibilidade de retorno de Lula ao poder. É possível que depois de amanhã, quarta feira, isso não irá mais faltar.

Quem acompanha as notícias da Operação Lava Jato já deve ter percebido que Sérgio Moro decreta prisões preventivas com o exclusivo objetivo de forçar acordos de delação. O mesmo juíz, no entanto, só aceita delação se o conteúdo disser respeito ao Lula.

Nesse cenário, agora cotado como candidato à presidência, Sérgio Moro fechou o cerco e, penso, uma das cartadas finais foi o depoimento do pecuarista Bumlai.

O povão não sabe, mesmo porque o povo nunca sabe, afinal a educação não se presta à formação crítica, mas estamos assistindo ao início do fim. Que Deus tenha piedade do povo brasileiro porque a mídia golpista e as elites políticas e econômicas não têm.

sexta-feira, 17 de março de 2017

FLAVIO EVERS CASSOU E A NOVA MORALIDADE BRASILEIRA

Cassou é o típico homem de bem para quem Sérgio Moro é um herói nacional. Cassou é o bom homem cristão, de caráter e moral irrepreensível. Cassou é o homem que não comete crime pelo simples fato de estar ligado aos criminosos certos, o grupo do PMDB.

Na mente doentia de Cassou, utilizar seu conhecimento de veterinária para fraudar laudos e, assim, permitir a venda, inclusive para consumo infantil, de carne pobre e com produtos que colocavam em risco a saúde das pessoas não é crime. Crime é apenas o que pessoas ligadas ao PT faz.

Flávio Evers Cassou é exemplo contundente de uma elite branca acostumada ao privilégio dos recursos públicos, que aprendeu a odiar qualquer ganho social da classe pobre e que destila seu ódio e seu veneno contra o governo do PT porque, no julgamento demente dessa elite, apenas esse partido, por promover algum ganho para as classes pobres, roubou e cometeu crime. Segue texto de "O Globo":

Alvo da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, o médico veterinário Flavio Evers Cassou, funcionário da Seara, empresa controlada pelo grupo JBS, publicou posts no Facebook pedindo rigor da Justiça e exaltando rigidez de caráter. Nesta sexta, ele foi preso e teve os bens bloqueados durante a ação da PF para reprimir uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários e empresários. A polícia se refere a Cassou como executivo da Seara, mas a empresa garante que o cargo dele é de médico veterinário.

A Operação Carne Fraca foi desencadeada após quase dois anos de investigação. A PF emitiu mandados de prisão e busca e apreensão ao constatar que superintendências regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público. Irregularidades como reembalagem de produtos vencidos, propina e venda de carne imprópria para consumo humano foram encontradas.

O perfil de Cassou informa que ele trabalha no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo a JBS, ele é funcionário da empresa, mas está cedido à pasta. Ainda de acordo com a página no Facebook, o profissional estudou Medicina Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Em uma postagem feita por Cassou no dia 6 de janeiro de 2015, o veterinário compartilhou um artigo que exalta o trabalho do juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos de 1ª instância da Operação Lava-Jato. "Se o juiz Sérgio Moro (foto) desaparecesse hoje, boa parcela dos empresários que representam o PIB nacional se sentiria aliviada (...) E teríamos festa nos arraiais do PT e seus assemelhados", diz o primeiro parágrafo do texto.

Em seus posts, o funcionário preso mostra que é opositor do Partido dos Trabalhadores (PT). Ainda em janeiro de 2015, ele republicou um post da página "Dilma Rousseff, NÃO", que pedia ironicamente a importação de juízes da Indonésia depois da vinda de médicos cubanos. Na ocasião, a imprensa do Brasil repercutia a execução de dois brasileiros condenados no país asiático por tráfico de drogas.

Às vésperas do primeiro turno das eleições de 2014, Cassou apoiava "tirar o Brasil do vermelho", ao pedir a saída do PT do governo. O executivo era crítico do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e da então candidata a Presidência Marina Silva. Ele compartilhou um publicação da página "União Contra a Corrupção" dizendo que a ex-ministra até teria "muitas qualidades", mas seria "fundamentalista religiosa", "comunista de carteirinha" e "amiga íntima do LULADRÃO".

No mural do empresário ainda há publicações de "adote um bandido", contra o auxílio-reclusão, citações de princípios do ex-presidente americano Abraham Lincoln e pregações de rigidez moral. "Ética é o que você faz quando está todo mundo olhando. O que você faz quando não tem ninguém por perto chama-se caráter", lê-se em uma imagem compartilhada por ele em dezembro de 2014.

"Da vida não quero muito... quero apenas saber que tentei tudo o que quis, tive tudo que pude, amei tudo que valia e perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu", sustenta outra publicação do criminoso, o que por ironia veio a acontecer. 

quinta-feira, 16 de março de 2017

REDE GLOBO: O LIXO NOSSO DE CADA DIA.

Texto de Vanessa Barbara
publicado no The New York Times,em 17 de novembro de 2015


A manipulação dos fatos consumida como verdade absoluta.
No ano passado, a revista “The Economist” publicou um artigo sobre a Rede Globo, a maior emissora do Brasil. Ela relatou que “91 milhões de pessoas, pouco menos da metade da população, a assistem todo dia: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, só se tem uma vez por ano, e apenas para a emissora detentora dos direitos naquele ano de transmitir a partida do Super Bowl, a final do futebol americano”.
Esse número pode parecer exagerado, mas basta andar por uma quadra para que pareça conservador. Em todo lugar aonde vou há um televisor ligado, geralmente na Globo, e todo mundo a está assistindo hipnoticamente.
Sem causar surpresa, um estudo de 2011 apoiado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que o percentual de lares com um aparelho de televisão em 2011 (96,9) era maior do que o percentual de lares com um refrigerador (95,8) e que 64% tinham mais de um televisor. Outros pesquisadores relataram que os brasileiros assistem em média quatro horas e 31 minutos de TV por dia útil, e quatro horas e 14 minutos nos fins de semana; 73% assistem TV todo dia e apenas 4% nunca assistem televisão regularmente (eu sou uma destes últimos).
Entre eles, a Globo é ubíqua. Apesar de sua audiência estar em declínio há décadas, sua fatia ainda é de cerca de 34%. Sua concorrente mais próxima, a Record, tem 15%.
Assim, o que essa presença onipenetrante significa? Em um país onde a educação deixa a desejar (a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico classificou o Brasil recentemente em 60º lugar entre 76 países em desempenho médio nos testes internacionais de avaliação de estudantes), implica que um conjunto de valores e pontos de vista sociais é amplamente compartilhado. Além disso, por ser a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer influência considerável sobre nossa política.
Um exemplo: há dois anos, em um leve pedido de desculpas, o grupo Globo confessou ter apoiado a ditadura militar do Brasil entre 1964 e 1985. “À luz da História, contudo”, o grupo disse, “não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original”.
Com esses riscos em mente, e em nome do bom jornalismo, eu assisti a um dia inteiro de programação da Globo em uma terça-feira recente, para ver o que podia aprender sobre os valores e ideias que ela promove.
A primeira coisa que a maioria das pessoas assiste toda manhã é o noticiário local, depois o noticiário nacional. A partir desses, é possível inferir que não há nada mais importante na vida do que o clima e o trânsito. O fato de nossa presidente, Dilma Rousseff, enfrentar um sério risco de impeachment e que seu principal oponente político, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, está sendo investigado por receber propina, recebe menos tempo no ar do que os detalhes dos congestionamentos. Esses boletins são atualizados pelo menos seis vezes por dia, com os âncoras conversando amigavelmente, como tias velhas na hora do chá, sobre o calor ou a chuva.
A partir dos talk shows matinais e outros programas, eu aprendi que o segredo da vida é ser famoso, rico, vagamente religioso e “do bem”. Todo mundo no ar ama todo mundo e sorri o tempo todo. Histórias maravilhosas foram contadas de pessoas com deficiência que tiveram a força de vontade para serem bem-sucedidas em seus empregos. Especialistas e celebridades discutiam isso e outros assuntos com notável superficialidade.
Eu decidi pular os programas da tarde –a maioria reprises de novelas e filmes de Hollywood– e ir direto ao noticiário do horário nobre.
Há dez anos, um âncora da Globo, William Bonner, comparou o telespectador médio do noticiário “Jornal Nacional” a Homer Simpson –incapaz de entender notícias complexas. Pelo que vi, esse padrão ainda se aplica. Um segmento sobre a escassez de água em São Paulo, por exemplo, foi destacado por um repórter, presente no jardim zoológico local, que disse ironicamente “É possível ver a expressão preocupada do leão com a crise da água”.
Assistir à Globo significa se acostumar a chavões e fórmulas cansadas: muitos textos de notícias incluem pequenos trocadilhos no final ou uma futilidade dita por um transeunte. “Dunga disse que gosta de sorrir”, disse um repórter sobre o técnico da seleção brasileira. Com frequência, alguns poucos segundos são dedicados a notícias perturbadoras, como a revelação de que São Paulo manteria dados operacionais sobre a gestão de águas do Estado em segredo por 25 anos, enquanto minutos inteiros são gastos em assuntos como “o resgate de um homem que se afogava causa espanto e surpresa em uma pequena cidade”.
O restante da noite foi preenchido com novelas, a partir das quais se pode aprender que as mulheres sempre usam maquiagem pesada, brincos enormes, unhas esmaltadas, saias justas, salto alto e cabelo liso. (Com base nisso, acho que não sou uma mulher.) As personagens femininas são boas ou ruins, mas unanimemente magras. Elas lutam umas com as outras pelos homens. Seu propósito supremo na vida é vestir um vestido de noiva, dar à luz a um bebê loiro ou aparecer na televisão, ou todas as opções anteriores. Pessoas normais têm mordomos em suas casas, que são visitadas por encanadores atraentes que seduzem donas de casa entediadas.
Duas das três atuais novelas falam sobre favelas, mas há pouca semelhança com a realidade. Politicamente, elas têm uma inclinação conservadora. “A Regra do Jogo”, por exemplo, tem um personagem que, em um episódio, alega ser um advogado de direitos humanos que trabalha para a Anistia Internacional visando contrabandear para dentro dos presídios materiais para fabricação de bombas para os presos. A organização de defesa se queixou publicamente disso, acusando a Globo de tentar difamar os trabalhadores de direitos humanos por todo o Brasil.
Apesar do nível técnico elevado da produção, as novelas foram dolorosas de assistir, com suas altas doses de preconceito, melodrama, diálogo ruim e clichês.
Mas elas tiveram seu efeito. Ao final do dia, eu me senti menos preocupada com a crise da água ou com a possibilidade de outro golpe militar –assim como o leão apático e as mulheres vazias das novelas.